Recentemente um conterrâneo tabirense chamado Eriberto Cordeiro escreveu uma matéria publicada no Blog Tabira Hoje propondo a população “uma marcha pela moralização e renovação da política tabirense”. Nos dois primeiros parágrafos ele afirma que “toda caminhada começa com um primeiro passo”, fala da necessidade da conscientização do eleitor para início da transformação política e diz que “é através do voto que decidimos o destino da nossa cidade, do nosso Estado, da nossa Nação. O voto é de inestimável valor.” Até aqui tudo bem, não há como discordar dele. Penso que as contradições do movimento que ele propõe começam no terceiro parágrafo. Neste, ele faz um chamamento a população para sair do “banco de reservas” e entrar de vez no “JOGO DA POLÍTICA” sem ser contra ou a favor de quem quer que seja”. Como entrar no jogo da política sem ser a favor ou contra a quem quer que seja? Qualquer ação política ela já tem um lado. A neutralidade do professor em sala, por exemplo, dizia Paulo Freire, é falsa. Isto vale também para qualquer ação do cidadão numa sociedade dividida em classe sociais. Você está a favor dos opressores ou a favor dos oprimidos.
Nos quarto e quinto parágrafos ele escreve que é “um GRITO DAS FAMÍLIAS TABIRENSES pelo fim dos longos anos de descaso que Tabira vem passando”. Chama a união das entidades como Sindicatos, cooperativas, Igrejas, poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, entre outros, para mostrarem a indignação com a politicagem vivenciada há anos em Tabira. A contradição aqui reside em tentar reunir as entidades e os entes federativos que são dirigidos por políticos da situação ou da oposição para um ato deste tipo, ou seja, contra eles mesmos.
Nos sexto e sétimo parágrafos ele escreve sobre a formação de uma comissão “isenta dos vícios partidários”. Recomenda ainda que na mobilização “seja vedada a conotação política, impedindo, inclusive, que os pretensos candidatos e atuais ocupantes do poder tomem para si o mérito da mobilização popular”. Aqui, ainda que ele não queira, entra em contradição com o parágrafo anterior e, sendo contra os partidos, toma partido contra a situação e parte da oposição, já que todos têm pré-candidatos às próximas eleições.
No oitavo parágrafo o conterrâneo “opina pela impossibilidade de discursos políticos” no referido evento, “uma vez que é uma ação apartidária”. Neste parágrafo, apesar do veto a políticos, cita algumas pessoas ilustres e respeitadas da sociedade de Tabira como bem vindas ao movimento. Sem citar o nome delas, quero salientar mais uma vez, que todas, de uma forma ou de outra, tomam partido nas eleições, pois votam. Como vemos, não há neutralidade. “o homem é um animal político” já dizia Aristóteles na Grécia Antiga.
Nos três últimos parágrafos nosso tabirense cita o “movimento Caras Pintadas” como exemplo de mobilização pela moralização do Brasil na década de 90, para reforçar as suas idéias de que não será uma batalha fácil. Diz também que quem sonha pode realizar. “Fala que não têm “pretensões políticas”, e diz: “graças A DEUS não dependo de políticos, dependo apenas do dinheiro do povo, que é quem paga o meu suado salário do TJ-PE”. Nestes últimos parágrafos ele incorre, a meu ver, em mais equívocos. Vejamos: o movimento caras pintadas tinha uma conotação política clara que era o protesto contra a corrupção, a inflação, o desemprego da política neo-liberal implementada pelo presidente Collor. O referido movimento, pelo que sei, não discriminava partidos,nem políticos, todos que queriam a moralidade na política e estavam contra Collor eram bem –vindos. Os caras pintadas, por exemplo, eram comandados pelos jovens da UNE, da UBES e dos grêmios estudantis que eram politizados. O movimento tinha como principal reivindicação o Impeachment ou impedimento de Collor. Existe prova maior de movimento político do que este? Quanto ao fato de não depender de políticos, é bom lembrar ao ilustre tabirense que o próprio poder judiciário, do qual o TJ-PE faz parte, só foi criado mediante uma decisão política que vem das idéias de Montesquieu no livro “Espírito das Leis” (1748) (Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado) incorporada depois das “Revoluções políticas Liberais” no Estados Unidos, na França, no Brasil, entre outros países. Quem decide sobre os impostos do povo que paga o salário dos poderes no Brasil são os políticos do Poder Legislativo e do Executivo. A decisão do Judiciário ser um poder mais ou menos independente, é uma decisão política também. Lembremos que as leis são feitas pelos políticos do Poder Legislativo. Todos nós estamos submetidos a lei maior do país, a Constituição Federal, chamada também de Cidadã, pois, graças a luta política dos partidos da esquerda, mais ligados ao povo, incorporou muitas conquistas democráticas e sociais. Mesmo assim, quero crer, que o nosso amigo de Tabira que escreve esta matéria está bem intencionado. Sem entrar aqui em detalhes, Tabira tem muitas coisas boas que precisamos enxergar e valorizar. O meu receio é que a propaganda contra todos os partidos e políticos do Brasil e do mundo veiculada nos grandes meios de comunicação de massa, chamada também aqui no Brasil de PIG (Partido da imprensa golpista), foi também utilizada por Hitler, na Alemanha, quando o mesmo eliminou 6 milhões de Judeus, pregava no comando da política a chamada “raça pura ariana”, iludiu muita gente, na crise do capitalismo nos anos 30 e 40 do século XX, e quase domina o mundo, para eliminar ou fazer também, com certeza, nós nordestinos de escravos. Realmente o povo precisa se politizar, porém é se filiando a uma agremiação partidária ou tomando partido do lado da justiça e dos oprimidos que se mudam de fato as coisas no Brasil e no mundo Capitalista. Fora disso, negando os partidos e os políticos, não conheço caso na História de movimento nenhum que tenha transformado a vida de um povo ou de uma nação.
Um abraço caro leitor,
Tabira, 31 de outubro de 2011.
Dedé Rodrigues.
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