Pesquisa Datafolha da última semana
mostrou algo curioso. A população que é contra o impeachment é maior do que o
número de pessoas que votaram na presidente Dilma Rousseff (PT) nas últimas
eleições.
Não entra nesse cálculo a questão
jurídica das ‘pedaladas fiscais’, que caracteriza o impeachment como um golpe
parlamentar. Menos ainda o fato de o impeachment estar sendo levado a cabo por
uma trupe de réus comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A análise aqui é
apenas de números apresentados pela pesquisa e parte do princípio de que os
números são um retrato da realidade sem manipulação por parte do instituto.
Nas últimas eleições, 2014, contra
Aécio Neves (PSDB), Dilma teve 54,5 milhões de votos. Aécio teve 51 milhões.
Segundo a última pesquisa Datafolha,
27% dos entrevistados são contra o impeachment. Isso representa um volume de
exatamente 55,3 milhões de pessoas. Um número um pouco superior aos 54,5
milhões de votos recebidos por Dilma.
Se forem acrescidos os indiferentes e
os que não sabem, isto é, pessoas que não apoiam o impeachment, o número fica
superior em 11 milhões. Ou seja, 65,6 milhões de pessoas não apoiam o
impeachment.
Isso demonstra o quão complexa e
ideológica se apresentam tais pesquisas de opinião. A pesquisa Datafolha diz
que entrevistou 2.794 eleitores em 171 municípios de todo o país.
Esses eleitores não representam o
número de votantes, mas números da população, visto que os votantes só se
realizam no exercício do direito ao voto. São, na verdade, potenciais eleitores
e não eleitores de fato. Por isso, o instituto Datafolha e a notícia da
pesquisa dizem que “68% da população” são a favor do impeachment.
Não se pode substituir índices por
votos estabelecidos nas urnas, mas é interessante notar a semelhança entre os
votos de Dilma e o número dos que são contra o impeachment. No entanto, a
pesquisa praticamente triplica na população o número de votos dados a Aécio
Neves. Segundo o instituto, perto de 140 milhões de pessoas são a favor do
impeachment.
Nesse sentido, a pesquisa torna-se
eficiente como pressão política para o impeachment. Isso porque os números
do Datafolha falam em nome de uma população que se recusou a participar das
regras democráticas nas eleições ou de pessoas que não estavam habilitadas, por
exemplo, menores de 16 anos.
No fundo, a pesquisa mostra que, anulando o processo democrático e o
substituindo por um levantamento de uma empresa privada, a população apoia o
impeachment.
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