Este observador recebe regularmente mensagens de jornalistas que atuam nos principais veículos de comunicação. São em geral desabafos, lamentações, queixas de profissionais que se dizem pressionados por dirigentes, editorialistas e até mesmo colunistas, que agem como aiatolás em defesa da doutrina predominante na imprensa. A “guarda revolucionária” das redações acredita piamente que está batendo às portas de Teerã.
Por Luciano M. Costa, no Observatório da Imprensa
Reprodução
Não é incomum que repórteres sejam abordados, em meio a suas tarefas, por esses diligentes guardiães da pauta, sempre ciosos de que o texto final seja uma reprodução exata daquilo que foi imaginado pelos planejadores da edição.
Apenas uns poucos jornalistas são poupados desse assédio, porque podem transferir aos veículos em que trabalham a reputação que cultivaram em muitos anos de militância no jornalismo. Para esses são criadas ilhas de autonomia, onde pontificam sobre o que quiserem, mas sempre com o cuidado de não entrar em confronto direto com a linha editorial.
Eventualmente, podem ser vistos no café, em conversas cautelosas com colegas mais jovens, curiosos por saber como era a profissão no tempo em que a imprensa brasileira ainda era sinônimo de jornalismo. Os produtos de seu trabalho são utilizados pelos jornais para responder à acusação de que estão alinhados automaticamente a este ou àquele grupo político.
Por essa razão, é de se questionar a natureza do papel que representam, ao aceitarem ser usados como argumento contra a constatação de que as redações se tornaram ambientes nocivos à diversidade e à liberdade de expressão.
Num cenário exatamente oposto, os repórteres, editores e colunistas que aderem sem restrições ao viés dominante na mídia nacional desfilam sua “coragem intelectual” entre as mesas da redação, conscientes de que em algum momento a História lhes dará a justificativa moral pelo trabalho sujo de conspurcar uma das funções mais relevantes da sociedade moderna.
Para esses não há limite na deturpação da linguagem e na flexibilização da semântica, desde que sua produção esteja alinhada com o objetivo central.
Lucrando com boatos
Francisco Reginaldo de Sá Menezes, conhecido como Xico Sá, deixou sua coluna na seção de Esportes da Folha de S. Paulo, nesta semana, porque imaginou que, como os pitbulls da imprensa que dizem o que pensam e fazem abertamente suas campanhas eleitorais, também poderia manifestar sua opinião no espaço que lhe era destinado.
Acontece que ele se declara adepto da candidatura da presidente Dilma Rousseff. Disseram-lhe, então, que só poderia fazer sua manifestação em artigo a ser possivelmente publicado na página de opinião.
O jornalista cearense, conhecido por seu texto jocoso e temperado com muita malícia, preferiu deixar o jornal. Fez o anúncio numa série de postagens iradas pelo Twitter, e na manhã de terça-feira (14) publicou no Facebook seu relato sobre o episódio.
No texto que motivou seu rompimento com a Folha, ele comenta o que chama de “Fla-Flu eleitoral”, defende mais transparência dos jornais em seu posicionamento político-partidário e critica a cobertura eleitoral feita pela imprensa, que considera desequilibrada. No final, declara seu voto em Dilma Rousseff.
O episódio é revelador de como jornalistas que não concordam com a linha editorial adotada homogeneamente pelos principais meios de comunicação do país são submetidos a pressões constantes nas redações. Quem não se dispõe, como Xico Sá, a romper o vínculo com a empresa, por motivos que cabem a cada um, tem que sobreviver desprovido da autonomia básica que o jornalista precisa ter para exercer sua profissão com dignidade. A isso, externamente, se dá o nome de “liberdade de imprensa”.
Nesta altura dos acontecimentos, a duas semanas da decisão nas urnas, as empresas de comunicação jogam suas últimas fichas para tentar quebrar a série de governos sob a bandeira do Partido dos Trabalhadores. A obsessão dos donos de jornais tem razões econômicas – na defesa dos interesses dessas empresas – e ideológicas, e não conhece limites para a consecução de seu objetivo.
O cenário eleitoral ainda é nebuloso, e os jornais evitam divulgar os dados do rastreamento de pesquisas, mas vazam números cuidadosamente selecionados para agentes do mercado. Enquanto se aguarda a próxima pesquisa, colhem-se dividendos aqui e ali.
Apenas uns poucos jornalistas são poupados desse assédio, porque podem transferir aos veículos em que trabalham a reputação que cultivaram em muitos anos de militância no jornalismo. Para esses são criadas ilhas de autonomia, onde pontificam sobre o que quiserem, mas sempre com o cuidado de não entrar em confronto direto com a linha editorial.
Eventualmente, podem ser vistos no café, em conversas cautelosas com colegas mais jovens, curiosos por saber como era a profissão no tempo em que a imprensa brasileira ainda era sinônimo de jornalismo. Os produtos de seu trabalho são utilizados pelos jornais para responder à acusação de que estão alinhados automaticamente a este ou àquele grupo político.
Por essa razão, é de se questionar a natureza do papel que representam, ao aceitarem ser usados como argumento contra a constatação de que as redações se tornaram ambientes nocivos à diversidade e à liberdade de expressão.
Num cenário exatamente oposto, os repórteres, editores e colunistas que aderem sem restrições ao viés dominante na mídia nacional desfilam sua “coragem intelectual” entre as mesas da redação, conscientes de que em algum momento a História lhes dará a justificativa moral pelo trabalho sujo de conspurcar uma das funções mais relevantes da sociedade moderna.
Para esses não há limite na deturpação da linguagem e na flexibilização da semântica, desde que sua produção esteja alinhada com o objetivo central.
Lucrando com boatos
Francisco Reginaldo de Sá Menezes, conhecido como Xico Sá, deixou sua coluna na seção de Esportes da Folha de S. Paulo, nesta semana, porque imaginou que, como os pitbulls da imprensa que dizem o que pensam e fazem abertamente suas campanhas eleitorais, também poderia manifestar sua opinião no espaço que lhe era destinado.
Acontece que ele se declara adepto da candidatura da presidente Dilma Rousseff. Disseram-lhe, então, que só poderia fazer sua manifestação em artigo a ser possivelmente publicado na página de opinião.
O jornalista cearense, conhecido por seu texto jocoso e temperado com muita malícia, preferiu deixar o jornal. Fez o anúncio numa série de postagens iradas pelo Twitter, e na manhã de terça-feira (14) publicou no Facebook seu relato sobre o episódio.
No texto que motivou seu rompimento com a Folha, ele comenta o que chama de “Fla-Flu eleitoral”, defende mais transparência dos jornais em seu posicionamento político-partidário e critica a cobertura eleitoral feita pela imprensa, que considera desequilibrada. No final, declara seu voto em Dilma Rousseff.
O episódio é revelador de como jornalistas que não concordam com a linha editorial adotada homogeneamente pelos principais meios de comunicação do país são submetidos a pressões constantes nas redações. Quem não se dispõe, como Xico Sá, a romper o vínculo com a empresa, por motivos que cabem a cada um, tem que sobreviver desprovido da autonomia básica que o jornalista precisa ter para exercer sua profissão com dignidade. A isso, externamente, se dá o nome de “liberdade de imprensa”.
Nesta altura dos acontecimentos, a duas semanas da decisão nas urnas, as empresas de comunicação jogam suas últimas fichas para tentar quebrar a série de governos sob a bandeira do Partido dos Trabalhadores. A obsessão dos donos de jornais tem razões econômicas – na defesa dos interesses dessas empresas – e ideológicas, e não conhece limites para a consecução de seu objetivo.
O cenário eleitoral ainda é nebuloso, e os jornais evitam divulgar os dados do rastreamento de pesquisas, mas vazam números cuidadosamente selecionados para agentes do mercado. Enquanto se aguarda a próxima pesquisa, colhem-se dividendos aqui e ali.
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