A possibilidade de um ensino crítico, criativo e comprometido com a mudança social ainda está longe de ser realidade dentro das escolas de ensino do país. Há que se quebrar tabus que não estão totalmente resolvidos e dizem respeito ao modelo capitalista que mercantiliza ideias e devasta sonhos.
A luta para combater esse modelo falido foi tema de destaque em mais uma das mesas de debate no 17º Congresso da UJS, na tarde desta sexta-feira (23), em Brasília. A discussão foi enriquecida com as falas de Ataide Alves, representante da Secretaria de Educação de São Paulo; Virgínia Barros, presidenta da UNE; Barbara Melo, presidenta da UBES; e Tamara Naiz, presidenta da ANPG.
O discurso de Ataide foi muito influenciado pelos ideais de Paulo Freire, o grande mestre da educação no Brasil. Ele citou que, para Freire, o diálogo no ensino não pode verificar-se na relação de dominação. “A relação que se estabelece entre um professor que sabe que o estudante não sabe e um aluno que sabe que o professor sabe é uma relação de dominação que fixa hierarquicamente essa relação. Isso existe porque os processos educacionais pelas quais as escolas foram concebidas são extremamente industrialistas”, apontou.
Ainda sobre as relações de poder, Ataide afirmou que “somos todos influenciados pela ideologia dominante, o progresso tecnológico que caminha de mãos dadas com a ideologia de mercado, em nome dos quais há exploração, alienação e domesticação de milhões de homens e mulheres que são mantidos, através de uma cadeia de processos, pelo efeito dominó”.
“Uma educação emancipatória requer uma formação cada vez mais significativa e consciente durante toda vida dos indivíduos. Reafirma-se aqui a importância da consistência do trabalho educativo numa perspectiva de democracia, conjunto e compromisso”, ratificou.
Por falar em “conjunto”, Ataide citou um dado curioso do Inep. Seis milhões de crianças de seis anos estão aptas para ingressarem no ensino básico. O Brasil fornece, no entanto, apenas um milhão de vagas para esse universo. “Não há estímulo e isso vem de uma cultura já inserida na sociedade. O mercado de beleza e animais mobiliza muito mais recursos do que o setor da educação. E isso é mundial”, finalizou.
Movimento estudantil unido por avanços na educação
Praticamente todos os níveis da educação estavam representados na mesa em questão. Barbara Melo representa todos os secundaristas do Brasil; Virgínia Barros, os estudantes universitários; Tamara Naiz,todos aqueles que fazem pós-graduação.
“É no ambiente da escola e universidade que o trabalho da UJS se materializa por excelência. É nas escolas que se encontram as jovens mulheres, os jovens homossexuais e a juventude negra. Se eles não estão nesse ambiente, a nossa luta é para que estejam. Por isso é importante parar para refletir sobre educação. A educação que a gente quer ainda está longe da educação que vemos por aí”, sinalizou a presidenta da UNE.
De fato, ainda há muito que melhorar. Para a UJS, casos como eleição indireta para reitor, autoritarismo e presença militar dentro da universidade devem ser superados. O próprio modelo urbanístico, segregado, unifuncional, com densidade de ocupação baixíssima e com mobilidade baseada no automóvel remonta aos anos de chumbo da ditadura militar.
“A universidade deve estar associada à construção de um projeto de nação. É necessário mais diálogo, mais participação estudantil, além de dar continuidade ao modelo onde negros, pardos, estudantes oriundos da rede pública e pessoas com deficiência têm vez. O Programa Universidade Para Todos (ProUni) e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) são excelentes exemplos. Essas políticas devem ser aperfeiçoadas em seus detalhes para que possam se expandir com qualidade a outros milhões de jovens. A criação de um sistema de assistência estudantil, instituindo um programa de bolsa permanência, faz-se fundamental nesse sentido”, explicou Barbara Melo.
A universidade que a UJS quer é uma universidade madura, mas não velha, inteiramente sintonizada com o seu tempo e o futuro. Não é prisioneira dos interesses de poucos e ouve os alunos e os professores. É uma universidade pintada com todas as cores e para todos os brasileiros.
“Essa lógica deve se estender a todos os âmbitos da educação. Faço um apelo a todos os estudantes aqui presentes que se unam à ANPG para aprovarmos cotas raciais nas pós-graduações brasileiras. Os estudos científicos devem estar voltados para todos os brasileiros e ser um espaço de todos nós”, explicou Tamara Naiz.
10% do PIB para Educação
A UJS continua na luta pela urgente aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) com investimento de 10% para educação pública. O PNE é a ordem do dia e deve ser aprovado com urgência. Já são quatro anos de tramitação. Será, mais uma vez, através das mobilizações, forças e de um sonho conjunto, que os estudantes irão conquistar a criação do Sistema Nacional de Educação e um PNE que represente e dê respostas aos anseios da juventude do país, que conclama a garantia do seu direito social de ter acesso à educação pública de qualidade em todas etapas, níveis e modalidades.
O projeto será votado semana que vem na Câmara dos Deputados e deve ir à sanção da presidenta Dilma Roussef. "É com os 10% para a educação, somados aos royalties do petróleo para a educação, que alcançaremos, de fato, uma educação emancipadora", reforçou Vic Barros.
Por Patricia Blumberg, da UJS
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