quinta-feira, 16 de julho de 2015

Raúl e Salvador Capote: O controle do que vemos, ouvimos e lemos (2)

 

No final do século 20, o estado capitalista passou a abandonar áreas vitais da economia, dos serviços, das comunicações, entre outras. Essas áreas ficaram nas mãos de grandes conglomerados, que têm como único objetivo a obtenção, a qualquer custo, do máximo de benefícios.

Por Raúl Antonio Capote* e Salvador Capote**


 
 

O processo de desregularização, que começou nos Estados Unidos, em 1996, com a aprovação da Lei de Telecomunicações pelo então presidente Bill Clinton permitiu que as empresas com interesses alheios à lógica da comunicação começassem a ser proprietárias dos meios de comunicação.

As megafusões do capital financeiro, industrial e militar, foram seguidas por um processo de concentração dos meios de comunicação de massa ainda maior. Emergiram verdadeiros monstros de mil cabeças que assim como produzem cereais, também produzem aviões de guerra, alimentos geneticamente modificados, carros, medicamentos, biscoitos, notícias, vídeo games e mísseis. Dessa mesma forma representam artistas, editam os livros, os jornais e as revistas que lemos, organizam e promovem campanhas presidenciais, ditam a moda, a política, preferências, inventam e organizam guerras, nos conectam a Internet e à televisão por satélite, controlam a energia e por aí vai.

É o mundo da Democracia do Consumo de Massa, cada vez mais próximo do mundo de “Fahrenheit 451”, previsto pelo escritor norte-americano Ray Bradbury. O mundo de seres alienados no qual a vida é uma espécie de “reality show” televisivo, onde não há um pingo de privacidade, de autodeterminação e de liberdade. É o universo orwelliano de 1984.

Neste mundo capitalista do século 21, a liberdade de expressão não é nada mais que a liberdade dos grandes conglomerados de dizer às pessoas o que interessa a eles. Isto não é nenhuma novidade, a única diferença é que, agora, essa "liberdade" é ainda mais limitada. Se anteriormente ela estava em poder dos proprietários dos meios de comunicação e constituía conforme se concebia no quarto poder, agora, esse poder sobre a "liberdade" está nas mãos de apenas cinco mega transnacionais.

 


Nos Estados Unidos, a Westinghouse - que além de fabricar geladeiras, liquidificadores e outros aparelhos eletrodomésticos, também faz parte do Complexo Militar Industrial dos EUA - se associa com a CBS VIACOM.

A General Electric, também conhecida por seus famosos eletrodomésticos, empresa do Complexo Militar Industrial, se associa, ou melhor, se apropria da FOX News, Time Warner, Disney, Sony, AOL (líder mundial de um dos principais serviços de Internet), CNN-EMI, Time, Life e da People. Tem satélites, agências de notícias, redes a cabo, revistas, rádios, editoriais e a Warner Music Group, com mais de 1000 artistas contratados, entre os quais encontram-se Madonna e Eric Clapton. Possui 86% daquilo que vemos, ouvimos e lemos.

Na Europa, Lagarder, uma grande empresa de armamentos, fusiona-se com o Le Monde e compra importantes ações de PRISA, DASAU (Armamentos), com Le Figaro, Fininvest (Empresa de Berlusconi) com MEPIASET-Tele 5 e a Mediabanca-FIAT com Risoli Corrieri de la Cera.
Por sua vez, todos esses conglomerados europeus têm como sócios cada vez mais dominantes a Westinghouse e a General Electric, representados por Time Warner, Fox, Viacom, AOL e SONY.

Outro fenômeno interessante é a integração que ocorre entre essas megaempresas, às companhias de relações públicas norte-americanas, como a Burson-Marsteller, que opera em 35 países, com clientes como, por exemplo, a Monsanto e a Union Carbide, o Grupo Rendon, corporação de relações públicas especializada em forjar guerras, que trabalharam para Bush, pai e filho, e para Bill Clinton e as “psiops” militares (psico-operações militares), os psicoguerreiros.

Durante a guerra na Sérvia, psicoguerreiros do 3º Batalhão de Operações Especiais de Fort Bragg trabalharam com a CNN na produção de notícias. O Iraque foi o auge dessa interação, que seguiria depois com a Líbia, Síria, Venezuela, Ucrânia.

Esses charlatães, como são chamados pelos jornalistas, produzem e determinam os modelos de opinião a partir dos centros de poder político, econômico e militar. Se as empresas do complexo militar industrial são as grandes beneficiadas com as guerras e elas são as detentoras dos grandes meios da comunicação e Internet, cabe perguntar qual é o tipo de notícia e de informação que chega até nós através desses meios.

Muito em breve, não poderemos falar de império norte-americano, britânico ou alemão. Teremos que falar de Império Westinghouse, General Electric ou Monsanto, com seus exércitos privados de mercenários, como já têm operado defendendo os interesses desses grupos em diferentes regiões do planeta.

* Raúl Antonio Capote é licenciado em artes, mestre em Relação Internacionais e professor auxiliar da Universidade de Ciências Pedagógicas Enrique José Varona. É membro da União de Historiadores de Cuba e da Sociedade Cultural José Martí e também escritor. Foi oficial da segurança cubana e durante anos um agente infiltrado que ajudou a desbaratar redes de sabotagens e terrorismo contra Cuba socialista, tendo escrito, sobre esta experiência o livro Enemigo (ainda sem edição em português). 

** Salvador Capote Llano, natural de Cruces, Cuba, residente em Miami, Doutor em Medicina, especialista em Bioquímica, estudou Filosofía e Letras em Cuba e Ciências Políticas em Paris, é jornalista e trabalha na Rádio Miami.

Tradução: Silvia Matturro
 



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