quinta-feira, 16 de julho de 2015

REFLEXÃO DO DIA

China: Turbulência ou crise aguda? 


O último dia 08 de julho marcou o ápice de pesadas e contínuas perdas na bolsa de Xangai, que nesta data desabou 5,9%, enquanto Hong Kong fechou em baixa de 5,84%.


A forte queda acendeu um sinal de alerta e desencadeou uma onda de especulações.

Chegou-se a vaticinar que a “bolha” chinesa causaria um novo “1929” (quebra das bolsas de Nova Iorque, que mergulhou o capitalismo em uma de suas maiores crises). Outros diziam que a crise da China iria superar a da Grécia.

Palavras como “catástrofe” e “colapso” foram usadas abundantemente na mídia empresarial nativa e internacional.

Conhecida comentarista econômica do sistema Globo chegou a falar em “clima de pânico”.

Vozes mais ponderadas lembravam que as ações representam, na China, menos de 15% dos bens em poder das famílias e a emissão acionária menos de 5% do financiamento do conjunto da sociedade.

Nesta segunda-feira (13), o jornal Folha de S. Paulo, entrevistou Stephen Roach, professor da Universidade Yale e que foi economista-chefe do Morgan Stanley durante muitos anos. O título da entrevista “Há bolha na China, ela vai estourar e efeito será longo” é, em boa medida, desconectado com o conteúdo da matéria.

Apesar de considerar a crise séria, Roach diz que “o impacto na economia real deve ser negativo, mas limitado”. Ao ser questionado sobre uma possível correlação com a crise de 2008, Stephen Roach afirma: “A crise de 2008-2009 foi sistêmica, com instabilidade maciça em vários mercados de capitais, e expôs uma enorme parcela da economia que tinha se endividado em excesso a partir das bolhas imobiliária e de crédito. Nós temos um problema na China, mas não é da mesma gravidade”.

Mais enfático ainda é ao comentar a estimativa de alguns economistas que afirmam que o crescimento chinês pode cair para 3% ao ano: “Isso é muito extremo, um exagero total. A economia chinesa deve se estabilizar com crescimento entre 6% e 6,5% ao ano”.

Outro fator a considerar é que a China jamais abriu mão da centralidade do setor público em sua economia, o que lhe permite ampla margem de manobra, pois o país não depende de sinal verde dos centros financeiros internacionais para sair em defesa da economia nacional. E o governo chinês agiu rápido para conter a crise nas bolsas. Proibiu aos investidores que têm mais de 5% das ações de uma sociedade de venderem títulos nos próximos seis meses; mobilizou numerosas agências de intermediação e gestores de fundos para a aquisição de ações por bilhões de dólares e, por fim, determinou que 1300 companhias estatais listadas na bolsa mantivessem suas posições no mercado de ações.

Desta vez a grita foi generalizada contra o “intervencionismo” e o “dirigismo” estatal dos chineses.

Mas a bolsa reagiu positivamente e apesar de nesta terça-feira (14) ter voltado a cair, a tendência é que a situação se estabilize. Nesta mesma terça foi divulgado que o PIB chinês cresceu 7% no 2º semestre em comparação com idêntico período do ano passado, surpreendendo analistas. 

No entanto, não se pode dizer que a crise nas bolsas chinesas está totalmente controlada, e mesmo que ela não possa recrudescer. Mas o vaticínio do colapso revela pouco domínio sobre a complexa realidade do gigante asiático. 

É um discurso que subestima a capacidade de gerenciamento das crises, já comprovada em outras oportunidades, pela liderança chinesa. Porém, serve de ocasião para que os arautos de uma China refém da banca internacional possam expor suas teses desmoralizadas pela vida. 

Estes exigem que o país abra mão de seu projeto nacional, que tem sentido estratégico e que, sob a direção do Partido Comunista, comprovou sua eficácia, para aderir à mesma receita da ortodoxia neoliberal que mergulhou o capitalismo em uma crise sistêmica que, esta sim, está ainda longe de dar sinais de arrefecimento.

Aliás, as previsões catastrofistas em relação à economia chinesa não são de hoje, são recorrentes ao longo dos anos; todavia, a China mantém um crescimento ininterrupto da economia há décadas, não chegando a conhecer o fenômeno da recessão ou, mais precisamente, de queda no PIB, o que ao contrário vem ocorrendo durante os últimos sete anos nos principais países capitalistas, acentuando o desenvolvimento desigual e acelerando o deslocamento do poder econômico do Ocidente para o Oriente (e dos EUA para a China). 

O alarde da mídia burguesa e de seus analistas corresponde ao desejo e à torcida do imperialismo e dos imperialistas, mas não estão em sintonia com a realidade. Aqui cabe o ditado: a caravana (chinesa) passa enquanto os cães (do imperialismo) ladram.

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