Mantega diz que crise já está afetando emergentes
A crise mundial, hoje com epicentro na Europa, está piorando em função das respostas inadequadas e já atinge os emergentes, na opinião do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele também nega que o Brasil tenha oferecido US$ 10 bi à Europa. O assunto foi discutido entre os países dos Brics, mas dependia de os europeus cumprirem suas tarefas
O ministro da Fazenda Guido Mantega disse nesta terça-feira, 8, que não foi feita nenhuma proposta concreta, com números, pelo Brasil e por outros países emergentes para fortalecer o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, este assunto chegou a ser discutido entre os países que formam os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), mas dependia de os europeus cumprirem suas tarefas. As declarações de Mantega são uma resposta às notícias de que o governo brasileiro teria oferecido US$ 10 bilhões para aumentar os recursos do FMI e ajudar na crise financeira da Europa.
Contradições
Mantega disse ainda que o entendimento é de que o fundo de estabilização europeu e o Banco Central Europeu (BCE) precisam atuar mais. O ministrou afirmou que, como a Europa não conseguiu resolver o problema da Grécia, não houve proposta concreta para reforçar o FMI. "Não quer dizer que isso não possa acontecer no futuro", declarou o ministro.
Ele informou que os recursos não seriam apenas para os países europeus, mas para todos os países que precisem de dinheiro em caso de crise. Mantega destacou que já está havendo uma saída de capital dos países emergentes, o que poderia levar essas economias a precisarem de recursos. Ele disse que nenhum país chegou a definir cifras para reforçar o FMI.
Liderados pela China, os Brics decidiram que não vão colocar dinheiro no fundo de resgate europeu, até mesmo porque os próprios países europeus, começando pela poderosa Alemanha, estão reticentes quanto a isto. Se nem eles acreditam no fundo que criaram não se pode esperar que o Brasil e outros emergentes façam caridade, aplicando suas poupanças sem qualquer garantia.
Daí, a opção foi injetar dinheiro no FMI, que em tese é uma instituição multilateral. Ironicamente, Estados Unidos e Europa (apesar da necessidade) não apoiam tal alternativa, que só deve voltar à tela no interior do G20 em fevereiro de 2012. A razão para a oposição das velhas potências capitalistas parece óbvia. A injeção de recursos no FMI está associada às cotas de participação e controle no Fundo. Como os Brics é quem têm dinheiro sobrando para tal finalidade, a consequência lógica desta solução seria a alteração da relação de poder dentro da instituição, que hoje é dominada pelos Estados Unidos e Europa.
Crise
Mantega afirmou que a crise na Europa "piorou um pouquinho e já está havendo saída de capitais de países emergentes que não têm reservas internacionais fortes". "Não é do Brasil", afirmou.
O ministro disse que a crise europeia não está sendo resolvida satisfatoriamente. Ele lembrou que a Europa nem resolveu o problema da Grécia e terá de enfrentar agora a crise na Itália, que pode ser um problema maior, embora Mantega tenha destacado que a Itália é um país mais sólido.
Mantega lembrou ainda que a situação não é boa porque o mercado trabalha com expectativas, na base da confiança, e a Europa está resolvendo tardiamente a situação. "Os europeus estão deixando a crise degringolar", afirmou.
Ele disse que não só o Brasil mas outros países pressionaram os europeus durante a reunião do G20 na semana passada. Mantega reconheceu que a Europa tem os seus problemas políticos a serem resolvidos, mas foi enfático em lembrar que a crise já está afetando os emergentes. Segundo ele, a saída de capitais afeta o câmbio, mas o ministro não quis avaliar a situação específica do real.
O que o ministro não disse é que as medidas tomadas pelos governos europeus para enfrentar a crise da dívida, apostando “tudo na doutrina da austeridade expansionista, mais conhecida como crença na fadinha da confiança”, conforme o economista Paul Krugman, agrava a crise ao invés de solucioná-la. “O resultado é uma zona do euro que ruma para a recessão, na qual um esfacelamento do próprio euro parece ser uma possibilidade cada vez mais plausível. Fantástico”, conclui o economista.
Da Redação, com agências
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