Durante muitos anos, o Semiárido foi apresentado e tratado como inviável e um entrave
ao crescimento econômico e social do País. Uma região onde as pessoas não sobreviveriam sem
ajuda externa e eram consideradas incapazes de assumir seus destinos.
Essa ideia, construção simbólica, não foi despretensiosa, nem pode ser associada à
natureza ou às pessoas que vivem no Semiárido. O que se sedimentou é uma construção política,
atribuindo todas as dificuldades a Deus ou à natureza. Esse pensamento sempre teve um objetivo
claro: beneficiar poucos e manter o poder de dominação da elite, gerando subalternidade.
Associada à falta de água, a solução apontada pela política de combate à seca foi sempre
de cunho milagroso: um grande açude, uma grande barragem, a transposição do rio São Francisco,
uma grande adutora. Na história recente, no plano dos governos federais, tivemos:
Essas ações ficaram nacionalmente conhecidas como as responsáveis pela famigerada
Indústria da Seca.
Numa outra perspectiva, nessa mesma região, a partir do envolvimento das famílias em
torno de tecnologias simples, baratas e de grande impacto,
, foram sendo construídas cisternas de placas. De algumas
dezenas, passaram para centenas e hoje são cerca de 500 mil reservatórios. Uma revolução
silenciosa, resultado de uma ação conjunta da sociedade civil organizada, dos governos federal,
estaduais e municipais e de vários outros parceiros, inclusive bancos e empresas.
Assim, gradativamente foi crescendo a perspectiva da política de convivência com o
Semiárido.
Hoje, o Brasil, a partir da efetivação do Programa Água para Todos, no contexto do Plano
Brasil Sem Miséria, pode finalmente comemorar a decisão governamental de universalizar as
cisternas, pôr fim à Indústria da Seca e garantir água de qualidade a todas as famílias rurais do
Semiárido. Decisão que veio para valer e
Parece-nos, no entanto, estranho e inaceitável que, neste contexto, as cisternas de
plástico/PVC surjam como alternativa para o semiárido, uma vez que excluem a população local,
gestadas a partir dos conhecimentos
e das práticas das comunidades
demonstra o compromisso do governo da presidenta
Dilma Rousseff.
1972 - PLANOS DE AÇÃO PARA EMERGÊNCIA CONTRA AS CALAMIDADES PÚBLICAS
DE SECAS E DE ENCHENTES (Ministério do Interior/Sudene)
1979 - PLANOS DE AÇÃO PARA EMERGÊNCIA CONTRA AS CALAMIDADES PÚBLICAS
(Ministério do Interior/Sudene)
1979-83 - AÇÃO DO GOVERNO FEDERAL NO COMBATE AS SECAS DO NORDETE
(Ministério do Interior/Sudene)
Não permitindo a sua participação no processo de reaplicação da técnica, criando dependência das
empresas.
Efetivamente, o sucesso da ação da ASA através do Programa Um Milhão de Cisternas
está na participação das famílias como protagonistas de sua história. No fazer e ser parte do
processo.
Nesse contexto, nós, famílias agricultoras e organizações que fazemos a ASA, não nos
consideramos as donas da tecnologia, e nem as únicas envolvidas neste processo . No entanto, nos
sentimos no dever e no direito de alertar o governo e a sociedade brasileira sobre os efeitos
negativos das cisternas de plástico/PVC.
Por fim, queremos ser ouvidas, participarmos e sermos corresponsáveis pela
construção e gestão da política de convivência com o Semiárido.
asa@asabrasil.org.br
www.asabrasil.org.br
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