segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Atilio Boron: Reflexão ao pé da sepultura de Chávez


Sábado, 17 de agosto, foi um dia muito especial. Os companheiros do Ministério do Poder Popular para a Cultura da República Bolivariana da Venezuela levou todos os que vieram do exterior para a entrega do Prêmio Libertador ao Pensamento Pensamento para visitar o novo Mausoléu onde estão preservados os restos de alguns dos maiores patriotas da independência da Grã Colômbia e onde está e depositada a espada de Simón Bolívar.

Por Atilio A. Boron*, no Página/12


Hugo Chávez Rafael Frías morreu em 5 de março de 2013 vítima de um câncer na região pélvica


Depois disso fomos para o Quartel da Montanha, rebatizado por Chávez como o Quartel 4F, em homenagem ao levante militar liderado por ele e que, como disse, "por hora" foi derrotado. Aqui, nesta fortaleza histórica, pudemos visitar o túmulo que guarda seus restos mortais, e todos os visitantes fomos tomados por uma profunda emoção.

A mim me comove até agora, um dia depois, escrever estas linhas para compartilhar com tantos militantes antiimperialistas conscientes do imenso trabalho feito por Chávez no combate ao império e que levou sua vida. No momento em que passei ao lado de seu túmulo e pude dar-lhe um último abraço no frio mármore que o protege, se apoderou de mim, e ainda me deixa uma sensação vulcânica de tristeza, dor e raiva. Uma raiva que poucas vezes senti na minha vida e me levou a pensar — ou a alucinar — que se descobrissem quem foi o autor da morte de Chávez (porque a cada dia estou mais convencido de que o mataram), me apresentaria para cumprir a pena pena capital que qualquer tribunal imporia para integrar o pelotão de fuzilamento que colocaria fim à vida do canalha que assassinou o nosso amigo. Declaro que não sou defensor da pena de morte, mas o assassinato de tão grande importância para as lutas do nosso povo colocar em crise a força dessa convicção. A emoção e raiva, essa mistura explosiva de dor e fúria, obedeciam também a comprovação física de que quem sempre me recebia com um sorriso e que invariavelmente mesclava uma piada com um raciocínio profundo e brilhante, já não estava mais entre nós. E que se trata de uma perda irreparável.

Hoje vi na Telesur uma reedição de um de seus ‘Alô Presidente’, e a maneira brilhante na qual explicou a lógica do capitalismo, transformando os valores de uso em valores de troca e, portanto em mercadorias, e a inexorável consequência que este processo tem de organizar e aprofundar a exploração dos trabalhadores, a distribuição da mais valia entre as diferentes facções da burguesia e o empobrecimento da população, degradados à categoria de mera força de trabalho, me surpreendeu. Em poucas palavras e com uma linguagem simples e direta, compreensível para o povo, e altamente persuasivo, resumiu brilhantemente o que Marx escreveu em O Capital ou no pequeno texto sobre Trabalho Assalariado e Capital, ou o que Engels explicou no Anti-Dühring. Esse é o homem que nos tiraram. Um imprescindível, como diria Brecht, que lutava sempre, todos os dias. Seu exemplo reforça o que Fidel disse: ainda que nos digam que o mundo pode acabar em poucos anos, a nossa obrigação deve ser lutar, lutar sem pausa, porque o inimigo imperialista e seus lacaios colonizados não descansam. Ao contrário de muitos "esquerdistas pós-modernos", eles sim acreditam que a luta de classes é permanente e onipresente. Portanto, temos que redobrar os esforços, melhorar nossa organização e enriquecer a nossa consciência política! Se aproximam tempos de muitas tormentas!

*Diretor do PLED Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini.

Tradução: Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva


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