Tornou-se um
senso comum dizer que as manifestações de junho deixaram à mostra a crise de
representação das organizações do movimento social e dos partidos políticos. A
premissa levaria à conclusão de que os partidos de esquerda também revelaram a
sua inutilidade, mormente quando as suas principais expressões compõem a
coalizão que governa o País. Os movimentos espontâneos e a explosão de revoltas
juvenis e populares revelariam ainda o anacronismo doutrinário desses partidos
e a flagrante contradição entre seus programas políticos ou plataformas de ação
com a realidade.
Busca-se com
isso montar um cenário de vácuo ideológico e político, a ser preenchido com
alternativas inteiramente “novas”, o que inclui legendas políticas e lideranças
“inovadoras”. Isto corresponde à fase de lançamento dos balões de ensaio e
teste de alternativas políticas para a eleição presidencial de 2014. Os centros
de formulação, informação e propaganda das classes dominantes, principalmente a
mídia, buscam construir a alternativa eleitoral para derrotar a presidenta
Dilma Rousseff e as forças que compõem a coalizão governamental. A divisão
dessas forças faz parte da operação política e midiática pré-2014.
Por isso,
longe de se deixar levar pelo conto do próprio fracasso e de sua superação
histórica como representação política, o que se impõe às forças – e ao próprio
governo - é examinar as razões da sua debilidade no exercício do protagonismo
político e na condução das lutas políticas e sociais das massas.
O povo
brasileiro amadureceu politicamente ao longo dos últimos 10 anos. Compreendeu
com a própria experiência, num exercício cotidiano de pedagogia política, que
as forças de direita, neoliberais e conservadoras, representadas principalmente
pelo antigo PFL (DEM) e o PSDB de FHC, Serra, Alckmin, Aécio et caterva levaram
o país a uma encruzilhada histórica, debilitando sua soberania, aumentando a
concentração de renda e riqueza, degradando as condições de vida das massas
trabalhadoras, atacando direitos democráticos e sociais. É flagrante o
contraste quando se evidenciam, em face desse desastroso cenário, as conquistas
democráticas, patrióticas e sociais dos governos de Lula e Dilma.
A questão
nova apresentada às forças que se encontram à frente do governo é como dar o
passo seguinte. Em uma década o país avançou, mas ainda à base de compromissos
entre classes antagônicas, com a manutenção dos principais traços de
conservadorismo do sistema político, econômico e social e sem realizar as
rupturas necessárias com o capital financeiro-monopolista, o latifúndio, o
imperialismo e a mídia reacionária, por meio de reformas estruturais
democráticas.
Esta nova
etapa, que sugere duros enfrentamentos políticos e sociais, ao invés de
compromissos com as classes dominantes, é que deve pautar, instar e tensionar
as forças de esquerda, cuja tarefa central é unir e mobilizar o povo brasileiro
na luta pelas mencionadas reformas, para cuja realização é indispensável
construir uma frente política e social composta por todos os partidos,
movimentos, entidades e personalidades com afinidades de esquerda, dispostas a
costurar uma plataforma patriótica, democrática e popular, em cujo centro
esteja a disposição de avançar nas mudanças indispensáveis para transformar o
Brasil numa forte nação progressista.
É estimulante
que o Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista do Brasil, cada qual no
seu âmbito organizativo e com as próprias identidades políticas e ideológicas
preservadas, estejam realizando simultânea e paralelamente reuniões das suas
instâncias máximas de deliberação que culminarão com a eleição dos respectivos
coletivos dirigentes.
A exigência
de uma esquerda unida e forte, em cujo âmbito os comunistas desempenhem um
papel fundamental, tem sua centralidade determinada pelo aprofundamento da
crise sistêmica e estrutural do capitalismo, pela acentuação dos traços mais
agressivos do sistema imperialista, pela brutal ofensiva contra os interesses
dos trabalhadores e dos povos. No âmbito nacional, esta unidade é indispensável
para organizar o avanço da luta pela ampliação e aprofundamento das mudanças
políticas, econômicas e sociais. Fonte: Editorial do Portal Vermelho.
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