segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O gargalo da educação básica no Brasil

(por Sandro Ferreira)

A maioria dos estudantes brasileiros dos níveis fundamental e médio é reprovada em avaliações externas. Isso é fato veiculado pela mídia. Há quem afirme que, nesse caso, a responsabilidade é do professor. Em se tratando de professor que trabalhe em escola que lhe ofereça todo um suporte infraestrutural e pedagógico, essa afirmação pode ser verdadeira. Caso contrário, ela pode não fazer sentido, ou seja, a responsabilidade deixa de ser apenas do professor.


É importante ter senso de realidade em relação aos programas de ensino antes de adotá-los (ou não). Os municípios precisam analisar cuidadosamente os programas de ensino que aplicam, a adequação do material didático e os mecanismos de apoio ao professor. “Mas, principalmente, parar de atrapalhar a escola criando e recriando programas” (João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto).


Como professor da rede pública, há mais de doze anos na educação básica, convivi/convivo com essa enxurrada de programas “criados” e “recriados”, aos quais João Batista se refere. Muitos deles com metodologias que se antagonizam, como é o caso do Alfa e Beto (usa o método fônico e é indicado para o pré-escolar I e II) e o Alfabetizar com Sucesso (usa o método silábico e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental), adotados por alguns municípios de Pernambuco. Há casos em que, paralelo aos programas sobreditos, acrescenta-se o programa Via Escola (usa o método global e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental).

Não defendo a tese de que os métodos usados por esse ou aquele programa sejam ineficientes. O problema é que os governantes não visam o alvo. Atiram aleatoriamente para todos os lados. Por que não ouvir os gestores, os coordenadores pedagógicos e os professores, a fim de saber qual programa se adéqua melhor à realidade dos estudantes? Ou por que não dar autonomia aos municípios para que eles construam seu próprio currículo pedagógico, em consonância com as características locais e as diretrizes nacionais?

Afinal, passou da hora de tomar medidas enérgicas aptas a controlar a qualidade do ensino público brasileiro. Para tanto, impõe-se abandonar o faz de conta e olhar de frente o gargalo da educação básica: infraestrutura precária, material didático deficitário e enxurrada de programas com metodologias antagônicas. Quer dizer, sem dar condições ao professor para desempenhar sua função, ninguém pode responsabilizá-lo pelo mau desempenho da maioria dos estudantes dos níveis fundamental e médio em avaliações externas.

(Artigo publicado na Folha de Pernambuco, 29/07/2013, Opinião, p. 10)

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