Por Dedé Rodrigues.
O recrudescimento da violência da Otan, EUA à frente, e de seus aliados nas relações internacionais revela que as elites destas nações começam a se aproximar da loucura total, e ameaçam o futuro da humanidade como nunca antes. Este fato coloca um desafio histórico ao povo brasileiro.
"Mundo à beira da guerra"
No que se refere à inerente agressividade do imperialismo, cabe indagar: há conexão entre fatos da atualidade que sugerem preparação de confronto político militar de escala mundial entre blocos antagônicos? E, a depender da resposta: como lidarmos com esta eventual preparação e catalisarmos mudanças anti-imperialistas na correlação de forças?
As respostas, longe de serem conclusivas, podem surgir a partir da interpretação de fatos recentes como a renovação e reposicionamento das capacidades militares de alguns países ou agressões regionais promovidas pela Otan num claro movimento de pinça sobre a Eurásia.
A mensagem vem desde a guerra na Sérvia nos anos 1990 e, principalmente, a guerra da Geórgia em 2008, maquinada pelos EUA/Otan, para controle da Ossétia do Sul, região onde escoa gasoduto russo. EUA/Otan perseveram na doutrina de aumento contínuo do poder em relação a outros Estados, inclusive para anular as capacidades dissuasórias destes, aproveitando as oportunidades e vantagens estratégicas atuais para lutas futuras.
Convém relacionar outros fatos atuais: ação da Otan contra o atual regime sírio e fechamento do estratégico porto militar russo em Tartus/Síria; fomento a celeumas regionais por um novo realinhamento pró-EUA no sudeste/leste asiático e Oceano Índico para controle de rotas comerciais e contenção da China; incremento de espionagem virtual e ataques cibernéticos; financiamento de ONGs e grupos de mídia para desestabilizar Estados; cerco à América Latina e África pela ativação da Quarta Frota e Africom; controle de nações com posições geoestratégicas (Mali, Líbia, Egito, Colômbia, Honduras e Paraguai); busca do colapso da articulação Brics; militarização e engajamento crescentes da UE; emprego clandestino de drones e sabotagens; acirramento das disputas por recursos naturais, financeiros, mercados, rotas comerciais ou virtuais e satélites; uso das crises induzidas na Síria, Irã e Coreia para forçar queda de governos antagônicos e, principalmente, implantar escudos antimísseis de modo a anular o potencial de dissuasão nuclear de Rússia e China. Neste ambiente enfraquecem-se as normativas do pós-guerra e ONU e, ademais, dá às nações envolvidas a senha para confrontação total.
Como reação: russos, chineses e aliados regionais criaram a Organização de Cooperação de Xangai que articula seus interesses de desenvolvimento econômico e segurança; ampliação dos orçamentos militares chineses e russos e aquisição de tecnologias, equipamentos, veículos militares, incremento de guerra eletrônica e espacial, capacitação de pessoal e estabelecimentos de novas bases capazes de romper o cerco da Otan; desenvolvem-se escudos antimísseis na Rússia, China e Irã. Rússia e China participam de medidas políticas e econômicas como a criação do banco Brics, gradual substituição do dólar e compra de ouro em larga escala; russos associam-se a alemães para construção do óleo-gasoduto norte via Mar Báltico (afetando a correlação de forças na Otan) e visam ainda novos óleo-gasodutos direcionados à Europa, um pelo Mar Negro e outro pelo já mencionado Porto de Tartus/Síria (desafiando EUA, Catar, Turquia, Arábia Saudita, que ainda lutam pelo óleo-gasoduto Nabucco). A Rússia realiza obras para integração de infraestruturas de transportes para dar elo, a baixos custos, às trocas comerciais entre UE e leste/sudeste asiáticos; incorporação da China nos mercados africanos e latino-americanos. E nós nisso?
“... tendo toda essa riqueza natural, esse parque industrial e essa capacidade de produção que a gente tem, quem garante que, no futuro, um conflito até entre terceiros não poderá ter uma repercussão aqui? (...) do ponto de vista regional, na América do Sul, cooperação; do ponto de vista global, dissuasão”. Celso Amorim
O Brasil, com a condução soberana dada por Lula e Dilma, vai inexoravelmente sendo lançado ao centro dos acontecimentos: como global player fez a escolha de integrar-se aos vizinhos; opta pelo multilateralismo, expressado nos Brics e diversificação de mercados internacionais. Quanto à defesa, aprovou-se a inédita Estratégia Nacional de Defesa, focada na “teoria da dissuasão a eventual potência inimiga ao norte”; reforça sua indústria de defesa a partir de investimentos públicos em P&D, compra de material com transferência de tecnologia, modernização das Forças Armadas. Aposta no projeto de submarino nuclear nacional e renovação dos caças.
Mesmo com esforços do Planalto para situar melhor o país contra adversários potenciais, o que reflete nova correlação de forças no Brasil, há muitos desafios. Nossos problemas históricos não residem apenas na desídia imobilizante das elites que sempre apontaram vizinhos como inimigos. Essas elites, desalojadas do Planalto nas derrotas eleitorais dos tucanos, ainda conservam profunda influência, particularmente em setores militares específicos. A superação dessa influência é preliminar na estratégia contra potenciais agressões vindas do norte.
É necessária a crítica ao pacifismo despolitizado e estímulo à luta pela paz com sentido socialista, internacionalista e anti-imperialista. O tema deve ser democratizado, ganhar os trabalhadores brasileiros e o povo em geral, ser organizado no seio das lutas populares. Para tal, é necessário apreender experiências anteriores, reforçar politica e ideologicamente as lideranças populares, dar solidez organizativa aos movimentos sociais, combater o fenômeno do rebaixamento político pelo pragmatismo; construir capacidades para desenvolver as variadas formas de luta exigidas agora e adiante.
Dissuasão, o Brasil só poderá alcançar pelo engajamento dos trabalhadores e das camadas populares na discussão consciente do tema defesa, predispondo a mobilizarem-se em defesa do território, da infraestrutura, do modo de ser e se transformar; e conter o fascismo nacional em sua sanha contra instituições democráticas. Nossa estratégia de defesa deve ser coisa de todo o povo, e não somente dos servidores militares. Isso requer abertura e participação, afastando o velho enredo determinado pela traição das elites.
Mas aqui voltamos ao começo, o mundo está à beira da guerra, é preciso que os povos contenham a barbárie e impeçam, o quanto antes, os movimentos da Otan em direção à Síria.
*É militante do PCdoB em Santa Catarina
Nenhum comentário:
Postar um comentário