segunda-feira, 19 de agosto de 2013

MARINA SILVA; A SAGA DE UMA MULHER


(por Sandro Ferreira)
Simples, humilde, fisicamente frágil, Marina Silva nasceu em um lugarejo no Acre e aos quatro anos começou a trabalhar como seringueira para ajudar a família e ser alfabetizada aos 16 anos. Logo se formou em História e entrou para a militância política, disputando com os caciques tradicionais para se eleger senadora aos 40 anos. Esta é apenas uma síntese da vida de Marina Silva, escolhida para representar as mulheres brasileiras que estão cada vez mais ocupando espaço na sociedade.
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onge de ser uma xiita ou uma militante, ela se transformou em um gigante quando começou a defender suas ideias que combatiam, principalmente, as injustiças sociais. Foi com essa postura humilde, mas sem se curvar, que ela acabou se impondo no Congresso Nacional. Até mesmo o senador Antonio Carlos Magalhães dedica à ela sua porção de ternura, apesar das divergências ideológicas.
Agora Marina não é mais senadora, mas está de olhos abertos para o Palácio do Planalto em 2014, mesmo com as antigas divisões que a tornaram oposição de Dilma no governo. Sempre ultrapassando as dificuldades diante da corrida do seu partido, é simplesmente pelo pouco tempo que tem, que precisa conseguir as 800 mil assinaturas de que a Rede necessita para ser reconhecida diante da lei como um partido oficial. Mesmo assim, terá a certificação dos apoios nos cartórios e nos tribunais regionais eleitorais (TREs).
A conclusão do ministro Marco Aurelio Mello, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sinalizou que as assinaturas deverão seguir uma série de requisitos, argumentando que ainda há listagens a serem conferidas. Para o ministro, é preciso checar se os apoios existem. “Não se pode pretender criar um partido da noite para o dia. Há formalidades legais irrefutáveis”, afirmou.
A seguir, trecho de uma entrevista concedida por Marina à Brasília em Dia
- Qual foi sua trajetória até chegar ao Senado Federal?
- Desde os quatros anos de idade eu trabalhava no seringal, a 70 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre, para ajudar meus pais, que tiveram 11 filhos. Não havia escola e só aos 14 anos aprendi a conhecer as horas no relógio e as quatro operações básicas da matemática. Era uma necessidade para não ser enganada na venda da borracha. Aos 14 anos fiquei órfã de mãe e, como minha irmã mais velha tinha se casado, assumi o comando da família e a criação dos irmãos mais novos. Quando tinha 16 anos contraí hepatite e tive que procurar tratamento médico na cidade, onde trabalhei como empregada doméstica. Naquela época eu tinha o sonho de estudar e ser freira.

- A senhora sofreu preconceito?
- Graças a Deus, não! Por incrível que pareça eu nunca posso dizer que alguém me discriminou por ser negra e ser mulher. Quando elas percebem, geralmente se admiram porque eu tratava de temas que poucos homens tinham coragem de mexer no meu estado. Tanto é que um dos que mexeram foi assassinado. Eu vivi com essas pessoas e, de certa forma, isso criava uma admiração e respeito da parte dos demais. 

- A senhora acha que todo homem tem complexo de super-homem?
- Eu acho que a forma masculina não admite muitas vezes assumir esses limites, tanto é que os homens políticos têm que fazer de conta que sabem das coisas que desconhecem.

- Como a senhora vê o abuso sexual?
- Ainda continuamos sem direito ao nosso corpo porque ele causa interesse erótico, mas existem alguns que acham que, por direito, podem nos conquistar na marra em detrimento da nossa palavra e aí vem a ideia do abuso sexual, que é uma espécie de deformação de loucura do erotismo na nossa sociedade. Essa loucura sobrecai com uma violência que fere o corpo e a alma e que obriga uma pessoa a fazer aquilo que ela não quer.

- E o quadro dos meninos de rua?
- Milhares e milhares de garotos são assassinados nas ruas e a gente nem liga. Quando eu digo isso não estou julgando, é a nossa cultura. A gente não se faz presente. É como se nós não nos indignássemos mais. Estamos perdendo a capacidade de indignação diante de alguns fatos que acontecem.

Detalhe importante: esta é a mulher que, mesmo sem partido oficial, pode ir ao segundo turno com Dilma Rousseff, de acordo com a última pesquisa do DataFolha. Dilma subiu de 30% para 35% de aprovação depois das medidas que tem tomado, mas a causa principal para a queda de uma candidata que tinha mais de 50% de popularidade foi, sem dúvida, a resposta das ruas depois das manifestações em junho deste ano. Marina já chega aos 26% de aprovação, enquanto o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, caiu de 17% para 13%. Há tempo para todos elaborarem as suas estratégias, mas uma coisa é certa: a briga será boa e intensa. Cabe ao eleitor decidir. 

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