Opositores e aliados
José Reinaldo Carvalho *Algo prejudicial a uma força política que está sob cerrado ataque do inimigo, em meio a uma intricada crise política, alvo de uma megaoperação de cerco e aniquilamento, é a divisão das próprias fileiras, a fragmentação de posições e o criticismo a partir de opiniões que, mesmo bem intencionadas, servem objetivamente aos interesses da direita.
O risco maior que corre uma liderança no poder momentaneamente enfraquecida é tornar-se alvo de críticas e ataques dos próprios aliados e ser responsabilizada por erros que não cometeu.
Como se não bastassem os ataques dos inimigos declarados do governo, a nova moda é inculpar e condenar a presidenta Dilma pelas defecções de aliados.
Em artigo recente, neste mesmo espaço, comentei como foi decisiva para a vitória de Lula nas eleições de 2002 e o êxito do seu governo, a aliança com o grande empresário e político patriota José Alencar e, a partir de 2006, com o PMDB liderado por Michel Temer, que se mantém ainda hoje.
Até onde alcança a minha percepção, não estava nem está nos planos da liderança política do país romper a aliança básica com o PMDB. Não encontra respaldo na realidade o argumento de que a mudança de posição de um expressivo setor desse partido decorre de posições sectárias da mandatária ou de algum auxiliar – idiossincrasias à parte - sob sua orientação.
O que está ocorrendo no país é um forte deslocamento para a direita de forças que, enquanto consideravam conveniente, trafegaram no ônibus do governo de ampla coalizão e agora encontram a oportunidade para mostrar o seu verdadeiro caráter. Não é culpa da presidenta da República nem dos partidos de esquerda se determinadas facções que respaldavam o governo decidiram sustentar bandeiras antidemocráticas e antinacionais, como o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, a independência do Banco Central, a redução da maioridade penal e outras aberrações.
Ninguém em sã consciência entre as forças da esquerda consequente nega a necessidade da coalizão ampla para ajudar o país a sair da crise e assegurar as condições de governabilidade à presidenta Dilma. Mas tampouco renuncia à luta de ideias nem confunde flexibilidade tática e até a compreensão de que é preciso fazer concessões, com capitulação a posições antagônicas às convicções democráticas, patrióticas e éticas que conformam o programa vitorioso nas urnas.
O mesmo argumento falso, eivado por vulgar criticismo a métodos e estilo de liderança, marcou a trajetória de ruptura do PSB com a esquerda, a partir de pelo menos o ano de 2012. E ainda hoje, mesmo tendo atravessado o rubicão nas eleições de 2014, o partido justifica a opção feita pretextando os “erros” da presidenta e o “sectarismo” da corrente política que lidera.
No programa de TV que foi ao ar em rede nacional nesta quinta-feira (2), ficou patente uma vez mais o papel e o lugar que o PSB escolheu exercer e ocupar no espectro político. É válido envidar esforços para marchar com os verdadeiros socialistas e patriotas que militam nesse partido (devem ser ainda muitos). Mas não é válido enganar-se nem tentar enganar os outros com o mito de que o partido não é de oposição a Dilma.
No aludido programa de TV, o PSB bateu duro no governo, insinuou que a presidenta da República mentiu, alguns dos seus próceres, como o candidato a vice-presidente derrotado e o vice-governador de Geraldo Alckmin, foram agressivos e insultuosos. Em outros momentos do programa, chama-se de "independência" a furibunda oposição que a sigla faz ao governo Dilma. De quebra, para mostrar a "cara do Brasil", o programa de TV do PSB exibiu cenas das manifestações reacionárias de 15 de março.
Falemos claro, então. Ninguém excluiu qualquer partido ou facção da aliança. Antes, foram estes que mudaram de posição.
* * Jornalista, Diretor do Cebrapaz, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade e editor do Vermelho.
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