Por Piero Locatelli, no site Repórter Brasil:
O número de trabalhadores terceirizados
deve aumentar caso o Congresso aprove o Projeto de Lei 4.330. A nova lei abre
as portas para que as empresas possam subcontratar todos os seus serviços.
Hoje, somente atividades secundárias podem ser delegadas a outras empresas,
como por exemplo a limpeza e a manutenção de máquinas.
Entidades de trabalhadores, auditores-fiscais, procuradores do trabalho e
juízes trabalhistas acreditam que o projeto é nocivo aos trabalhadores e à
sociedade.
Descubra por que você deve se preocupar com a mudança.
O salário de trabalhadores terceirizados é 24%
menor do que o dos empregados formais, segundo o Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles ganham em média um terço do
salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, eles
não têm participação nos lucros, auxílio-creche e jornada de seis horas.
2 - Número de empregos pode cair
Terceirizados trabalham, em média, 3
horas a mais por semana do que contratados diretamente. Com mais gente fazendo
jornadas maiores, deve cair o número de vagas em todos os setores.
Se o processo fosse inverso e os terceirizados passassem a trabalhar o mesmo
número de horas que os contratados, seriam criadas 882.959 novas vagas, segundo
o Dieese.
3 - Risco de acidente vai aumentar
Os terceirizados são os empregados que
mais sofrem acidentes. Na Petrobrás, mais de 80% dos mortos em serviço entre
1995 e 2013 eram subcontratados. A segurança é prejudicada porque companhias de
menor porte não têm as mesmas condições tecnológicas e econômicas. Além disso,
elas recebem menos cobrança para manter um padrão equivalente ao seu porte.
4 - Preconceito no trabalho pode
crescer
A maior ocorrência de denúncias de
discriminação está em setores onde há mais terceirizados, como os de limpeza e
vigilância, segundo relatório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com
refeitórios, vestiários e uniformes que os diferenciam, incentiva-se a
percepção discriminatória de que são trabalhadores de “segunda classe”.
5 - Negociação com patrão ficará
mais difícil
Terceirizados que trabalham em um mesmo
local têm patrões diferentes e são representados por sindicatos de setores
distintos. Essa divisão afeta a capacidade deles pressionarem por benefícios.
Isolados, terão mais dificuldades de negociar de forma conjunta ou de fazer
ações como greves.
6 - Casos de trabalho escravo
podem se multiplicar
A mão de obra terceirizada é usada para
tentar fugir das responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de
90% dos trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo
contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e
Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e
manutenção elétrica.
7 - Maus empregadores sairão
impunes
Com a nova lei, ficará mais difícil
responsabilizar empregadores que desrespeitam os direitos trabalhistas porque a
relação entre a empresa principal e o funcionário terceirizado fica mais
distante e difícil de ser comprovada. Em dezembro do último ano, o Tribunal
Superior do Trabalho tinha 15.082 processos sobre terceirização na fila para
serem julgados e a perspectiva dos juízes é que esse número aumente. Isso
porque é mais difícil provar a responsabilidade dos empregadores sobre lesões a
terceirizados.
8 - Haverá mais facilidades para a
corrupção
Casos de corrupção como o do bicheiro
Carlos Cachoeira e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda
envolviam a terceirização de serviços públicos. Em diversos casos menores,
contratos fraudulentos de terceirização também foram usados para desviar
dinheiro do Estado. Para o procurador do trabalho Rafael Gomes, a nova lei
libera a corrupção nas terceirizações do setor público. A saúde e a educação
pública perdem dinheiro com isso.
9 - Estado terá menos arrecadação e mais gasto
Empresas menores pagam menos impostos. Como o trabalho terceirizado transfere
funcionários para empresas menores, isso diminuiria a arrecadação do Estado. Ao
mesmo tempo, a ampliação da terceirização deve provocar uma sobrecarga adicional
ao SUS (Sistema Único de Saúde) e ao INSS. Segundo juízes do TST, isso acontece
porque os trabalhadores terceirizados são vítimas de acidentes de trabalho e
doenças ocupacionais com maior frequência, o que gera gastos ao setor público.
Fontes: Relatórios e pareceres da Procuradoria Geral da República (PGR), da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e de juízes do Tribunal Superior
do Trabalho (TST). Entrevistas com o auditor-fiscal Renato Bignami e o
procurador do trabalho Rafael Gomes.
Postado
por Miro às 12:03
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