(por Sandro Ferreira)
Ficou na memória de todos os gestos e o som de Caetano Veloso gritando para a plateia do festival de música, durante a ditadura: "Vocês não estão entendendo nada! Vocês não estão entendendo nada!" Agora, os governos não entenderam (ou preferiram ignorar) os primeiros sinais de descontentamento vindos da população. As reivindicações iniciais pareciam irrisórias: uma obra na praça na Turquia, uma licença de trabalho negada na Tunísia e 20 centavos em São Paulo.
“Transporte público e de qualidade para todos!” Esse foi o grito inicial do movimento em São Paulo. Mas ele vai muito além desse tópico. Os 20 centavos são uma senha, uma centelha para lutar contra uma coisa em comum a todos estes movimentos pelo mundo: a falta de dignidade e o sentimento de exclusão.
Não é por 20 centavos que a população se levanta. Vinte centavos são a gota d’água que fez a indignação transbordar. Essa indignação se expressa em palavras de ordem, cartazes, marchas... E também com revolta. Lamentavelmente, os governantes atuais só decidiram reagir à revolta. E da pior forma: com violência. Claramente houve um total descontrole da polícia de São Paulo em relação aos manifestantes nesta quinta-feira, 13 de junho. Ainda mais graves foram os ataques gratuitos a trabalhadores deixando os escritórios, jornalistas, senhoras nos pontos de ônibus, jovens de 16 anos protestando pacificamente.
Se houve excessos, aqueles praticados por homens pagos pelo Estado e treinados para agir de maneira fria e controlada parecem ser mais graves e merecem da sociedade um grau muito maior de desaprovação. Ao Estado sempre caberá a responsabilidade pela manutenção da paz e garantia de segurança ao cidadão, mesmo quando este está protestando contra as políticas do próprio estado.
A Rede Sustentabilidade não apoia nenhuma forma de violência. Somos contrários à depredação do patrimônio público e repudiamos de forma veemente os ataques a manifestantes, jornalistas e até transeuntes. Acima de tudo, somos contra a violência diária que atinge milhões de brasileiros que usam o transporte público de péssima qualidade, que enfrentam filas nos hospitais e tantas outras formas de abuso promovido pelo Estado.
Cabe a todos a responsabilidade para que, nas próximas manifestações, os jovens indignados não sejam agredidos por tropas de choque que agem como as do tempo do regime militar. Nossa posição é contraria ao autoritarismo do governo frente às legítimas manifestações populares.
Vamos ouvir, dialogar e proteger o nosso povo. O Estado existe para isso.
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