O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, atingido no olho esquerdo por um tiro de bala de borracha disparado pela Polícia Militar durante o protesto de quinta-feira (13), em São Paulo, tem poucas chances de recuperar a visão. Já a repórter da Folha de S. Paulo, Giuliana Vallone, também atingida no olho por uma bala de borracha, não corre risco de ter danos maiores. No Facebook, a jornalista comentou o que houve e agradeceu o apoio: "Vi o policial mirar em mim".
Foto: UOL
Na quinta-feira (13), enquanto ocorria a quarta manifestação contra o aumento da passagem, na capital paulista, dois profissionais foram detidos: Piero Locatelli, jornalista da revista Carta Capital, por portar vinagre em sua mochila; e Fernando Borges, repórter cinematográfico do portal Terra. No terceiro protesto, ocorrido na terça (11), Pedro Ribeiro Nogueira, repórter do Portal Aprendiz, já havia sido espancado e preso.
Outros jornalistas também foram agredidos:
Vagner Magalhães – repórter portal Terra
Fernando Mellis – repórter portal R7
Gisele Brito – repórter Rede Brasil Atual
Leandro Morais – repórter fotográfico do UOL
Sérgio Silva – repórter fotográfico agência Futura Press
Fabio Braga – repórter fotográfico Folha de S. Paulo
Marlene Bergamo - repórter fotográfico Folha de S. Paulo
Félix Lima – repórter Folha de S. Paulo
Ana Krepp – repórter Folha de S. Paulo
Leandro Machado – repórter Folha de S. Paulo
Giuliana Vallone – repórter TV Folha
Rodrigo Machado – repórter TV Folha
Henrique Beirange – repórter jornal Metro
André Américo – repórter fotográfico jornal Metro
Segundo a jornalista Kátia Passos,casada com Sérgio Silva, "o caso dele é bastante grave". "Os médicos acham que, mesmo se fizesse agora uma cirurgia, pode até piorar a pequena acuidade visual que ele ainda tem. Mas a chance de ele recuperar (a visão) é mínima", disse ela.
Sérgio está internado no hospital H. Olhos (Hospital de Olhos Paulista), no bairro Paraíso, em São Paulo, e está consciente. Na noite de quinta-feira, ele trabalhava na cobertura do protesto contra o aumento da tarifa de transporte público quando foi ferido por uma bala de borracha, na rua da Consolação. "Ele foi socorrido por um professor que estava na manifestação, que o levou para o Hospital Nove de Julho", disse Kátia. Ainda na noite de ontem, Sérgio foi transferido ao H. Olhos.
O boletim médico do fotógrafo foi divulgado nesta sexta-feira, e diz que ele sofreu "lesões oculares e fratura de órbita". O documento, no entanto, diz que "não é possível afirmar o prognóstico visual". A mulher dele aguarda a opinião de outros especialistas para decidir quais procedimentos podem ser feitos.
Kátia lamentou o fato de que Sérgio pode não ter condições de voltar a trabalhar como fotógrafo. "Provavelmente não haverá condição de retornar (ao trabalho como fotógrafo). Pelo menos eu não conheço nenhum fotógrafo que consiga fotografar com um olho só", disse ela.
"Vi o policial mirar em mim"
Giuliana Vallone, repórter do jornal Folha de S. Paulo atingida no olho direito por uma bala de borracha durante a manifestação contra a alta da tarifa, no Centro de São Paulo, fez uma declaração em sua página no Facebook relatando o fato, na manhã desta sexta. Ela aproveitou para agradecer o apoio. Ela contou que graças aos óculos que usava nada de pior ocorreu. Abaixo, o comentário de Giuliana. Até o fechamento desta matéria já tinha mais de 9.300 compartilhamentos.
Queridos,
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as manifestações de carinho e preocupação recebidas dos amigos e também de pessoas que não tive a oportunidade de conhecer. Vocês são incríveis.
Agora, o boletim médico: passei a noite no hospital em observação. A tomografia mostrou que não há fraturas nem danos neurológicos. A maior preocupação era o comprometimento do meu olho, que sofreu uma hemorragia por causa da pancada. Felizmente, meu globo ocular não aparenta nenhum dano. E agora, ao acordar, percebi a coisa mais incrível: já consigo enxergar com o olho afetado, o que não acontecia quando cheguei aqui. Fora isso, estou muito inchada e tomei alguns pontos na pálpebra.
Sobre o aconteceu: já tinha saído da zona de conflito principal --na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência-- quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava. Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho.
Cobri os dois protestos nesta semana. Não me arrependo nem um pouco de participar desta cobertura (embora minha família vá pirar com essa afirmação). Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nessa história. De que lado você samba?
Em tempo: obrigada Giba Bergamim Junior e Leandro Machado pelos primeiros socorros!
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as manifestações de carinho e preocupação recebidas dos amigos e também de pessoas que não tive a oportunidade de conhecer. Vocês são incríveis.
Agora, o boletim médico: passei a noite no hospital em observação. A tomografia mostrou que não há fraturas nem danos neurológicos. A maior preocupação era o comprometimento do meu olho, que sofreu uma hemorragia por causa da pancada. Felizmente, meu globo ocular não aparenta nenhum dano. E agora, ao acordar, percebi a coisa mais incrível: já consigo enxergar com o olho afetado, o que não acontecia quando cheguei aqui. Fora isso, estou muito inchada e tomei alguns pontos na pálpebra.
Sobre o aconteceu: já tinha saído da zona de conflito principal --na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência-- quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava. Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho.
Cobri os dois protestos nesta semana. Não me arrependo nem um pouco de participar desta cobertura (embora minha família vá pirar com essa afirmação). Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nessa história. De que lado você samba?
Em tempo: obrigada Giba Bergamim Junior e Leandro Machado pelos primeiros socorros!
Vídeo da Carta Capital sobre a detenção por porte de vinagre do jornalista Piero Locatelli:
Da redação do Vermelho com agências
(fotos: de cima para baixo, Sérgio Silva permanece hospitalizado - Arquivo Pessoal / Divulgação; Giuliana Vallone ao ser atingida por bala - Diego Zachetta/Estadão)
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