Os bombardeios de drones que matam africanos, árabes e asiáticos constituem para Washington um novo tipo de execução sumária de seus inimigos, mas para o resto do mundo são só uma máquina destinada a matar por controle remoto.
Os drones ou Veículos Aéreos Não Tripulados (Unmanned Aerial Vehicles, UAV) são parte de uma cruzada dos EUA contra alvos na Somália, Afeganistão, Iraque, Líbia, Iêmen e Paquistão, na qual, sobretudo, morrem inocentes.
Os cerca de 22 milhões de dólares que custam alguns desses aviões não tripulados, localizados em bases dentro ou perto dos países de interesse e manejados de fora deles, garantem um alto potencial tecnológico para cumprir seus propósitos.
Washington assegura que essas naves possuem a mesma efetividade e precisão no tiro que presume a robótica estadunidense, mas cada vez se avolumam mais provas que acusam seu governo de mortes indiscriminadas.
Segundo um estudo das universidades de Stanford e Nova York, os Estados Unidos realizou, desde 2004, 400 ataques com drones, onde morreram mais de 2 mil pessoas, ainda que essas cifras possam ser superadas pela realidade.
Os UAV possuem "uma incrível agudeza de visão mediante múltiplas videocâmeras de grande potência", segundo o coronel da Força Aérea estadunidense Matt Martin, que "pilotou" o tipo Predator de um escritório na cidade de Nevada.
O oficial assegura que essas equipes permitem distinguir até quando seus alvos vão ao banho, acendem um cigarro ou se envolvem em aventuras amorosas, sem suspeitar que são observados do outro lado do mundo.
Fontes do Pentágono declaram possuir 7.500 drones e precisam que enquanto em setembro de 2001 se dispunha de 50, no início de 2012 já tinha um a cada três aviões militares convencionais.
Obama e o sentimento anti-Washington
Segundo o jornal The New York Times, os mais importantes ataques com drones no Iêmen e na Somália e os mais arriscados no Paquistão foram pessoalmente aprovados pelo recém-reeleito presidente Barack Obama.
Um artigo desse diário em junho deste ano assinado pelos jornalistas Jo Becker e Scott Shane indica que o chefe de Estado só é assessorado por alguns subordinados e por outros especialistas em segurança nacional.
Quando um ataque com drones tem como objetivo um suposto chefe terrorista acompanhado por sua família, o Presidente se reserva o cálculo moral final. "Ele é o responsável pela posição dos Estados Unidos no mundo", destaca a publicação.
O citado estudo de Stanford e Nova York inserido no jornal Hill sublinha que o uso de drones contra a Al Qaeda no Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália e outros países incrementa o sentimento anti-estadunidense em todo mundo.
"Essas operações semeiam a ansiedade e o trauma psicológico entre comunidades civis das áreas onde se produzem e criam caldo de cultivo para próximas ações insurgentes de grupos opositores e o incremento de suas bases", aponta a pesquisa.
As ações dessas naves contra pessoas vinculadas à Al Qaeda ou a qualquer outro grupo, unido ao conseguinte extermínio de populações indefesas aumentam em geral a rejeição mundial.
O jornalista estadunidense Harry Blackmouth simplifica a questão na publicação TalCualDigital mediante uma sorte de engenhoso jogo de palavras: "Se é tão difícil determinar quem é culpado como pode se saber quem é inocente?" Outra característica perigosa do drone é que às vezes falha seu controle do comando, como ocorreu no Afeganistão, Iraque e Paquistão com alguns que se desligaram e lançaram mísseis às cegas contra alvos indefesos.
Reação dos países atacados
Ao mesmo tempo, salvo algumas tímidas condenações da ONU, é natural que a mais contundente resposta de repúdio frente a esses crimes se localize nos estados afetados de maneira direta pelos mísseis. Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Iraque, Líbia e Somália são os que mais reagiram contra esses aviões, nos quais Washington já prevê aplicar a energia nuclear, bem como empregar em seu território e na América Latina.
Apesar de a CIA ser a encarregada prática do desempenho dos drones, a responsabilidade formal e o custo ético afetam cada vez mais a imagem do governo de Washington no mundo e em particular nos países escolhidos para essas operações.
Paquistão, um aliado dos Estados Unidos na "guerra contra o terrorismo" e o único país islâmico com armas atômicas, objeto em alguns casos a ação bélica estadunidense por meio dos drones.
Esse país foi palco no início de outubro do mais relevante gesto de oposição mediante uma marcha de dimensões sem precedentes contra os drones, organizada pelo Movimento Paquistanês pela Justiça.
Só no Paquistão, 30 aviões lançaram mísseis em mais de 230 ocasiões e provocaram a morte de duas mil pessoas, compreendida a do suposto número dois da Al Qaeda, o líbio Atiyah Abdel Rahman, em agosto.
A população do Iêmen, outro dos principais "estados-vítimas" dessas máquinas e onde o primeiro ataque foi em dezembro de 2009, experimentou nos últimos meses frequentes manifestações anti-drones.
O número e a intensidade desses ataques nos mencionados estados chegaram ao ponto de que alguns já se perguntam se Washington substituiu com os mortos por essa via o envio de "terroristas" à ilegal prisão de Guantánamo.
O que torna essas máquinas poderosas é sua habilidade para ver, pensar, decolar, aterrissar e voar por elas mesmas, pois seus movimentos não são a uma supervelocidade e seus mísseis são de modelos comuns.
Os operadores programam um destino ou área determinada de patrulha e depois podem ser concentrados nos detalhes da missão, enquanto os aparelhos ocupam-se de tudo o demais, ainda que oficialmente só esses pilotos humanos assumem a decisão de disparar.
Entre os tipos ou modelos mais conhecidos de UAV figuram o Predator (predador), o Reaper (segador, como uma foice), o Sky Warrior (guerreiro do céu) ou o stealth (invisível ao radar). Os pilotos à distância desfrutam, ademais, a mordomia de ver correr o sangue sem vertê-lo nem salpicar-se: "No improvável caso de que um drone seja derrubado" - relata o coronel Martin - "seu operador pode se levantar do seu console e sair andando".
Fonte: Prensa Latina
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