terça-feira, 14 de maio de 2013

Ecoquintais transformam agricultores familiares de São Luís em empreendedores

(por Sandro Ferreira)


Agricultores familiares da zona rural de São Luís estão prosperando com os Ecoquintais, um modelo agroecológico de produção com conservação ambiental que integra o plantio de hortaliças, frutas e criação de animais. O primeiro Ecoquintal foi instalado em 2006, no assentamento Cinturão Verde, na Zona Rural da Ilha. Lá, a família Medeiros implantou o primeiro sistema de produção diversificada do Ecoquintal Lucrativo - Modelo Produtivo, em uma área de 30 x 100m. No início, era apenas mais uma forma de minimizar as despesas de casa, mas, com o tempo, tornou-se a principal renda da família, que hoje tira seu sustento do Ecoquintal.




Jeane, o marido e as duas filhas acreditaram que era possível ensinar as técnicas empregadas no projeto e ajudar outras famílias rurais a instalarem os Ecoquintais e progredirem economicamente. Pensando em fazer alguma coisa para a inclusão produtiva de famílias que vivem da agricultura familiar, ela e sua família procuraram uma área onde pudessem realizar esse sonho. Assim, o modelo de produção do Ecoquintal foi ampliado em 2009 para mais 13 famílias no povoado Calembi, a 22 km de São Luís.

A chegada da agricultora familiar Jeane Medeiros e sua família no povoado Calembi transformou a vida das famílias que já moravam na localidade ou que para lá se mudaram, atraídas pela notícia do sucesso econômico do Ecoquintal.

Além disso, as filhas do casal, Isis Lorenna, engenheira agrônoma e mestranda em Agroecologia, e Karol, pedagoga e técnica agropecuária, prestam as consultorias na área de capacitação para as comunidades, ministrando cursos sobre autogestão de empreendimentos rurais, manejo sanitário de cabras, agroecologia e compostagem, entre outros temas. Já o Ateliê Jóias do Campo abre, para realização nas comunidades, cursos de confecção de bonecas de pano e de produção de sabonetes artesanais, ministrados por filhas dos agricultores de Calembi.

Agora, o mais novo empreendimento da família Medeiros no Ecoquintal é o cultivo de alface na água (hidroponia) utilizando estufas. Ainda este ano deve acontecer, também, o cultivo de tomate na água - a estufa já está sendo preparada, com custo unitário em torno de R$ 17 mil.

Modelo produtivo
Existem quatro Ecoquintais em Calembi, envolvendo 32 famílias de agricultores. Os quintais produtivos estão implantados em 1,8 hectares de terra, com meio hectare reservado para a preservação do meio ambiente, todos com registo no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).

A produção obtida é destinada à comercialização entre as próprias famílias que participam do projeto. Apenas o excedente é vendido para compradores externos como restaurantes e, também, para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esta semana, Maria Lucirene da Silva e Maria Cristina Santos, ambas agricultoras familiares proprietárias de Ecoquintais em Calembi negociaram a venda de cinco filhotes de cabras com três meses de idade da raça leiteira Saanner, com certificado de PO ( Puro de Origem). Os filhotes foram vendidos por Maria Cristina a Maria Lucirene ao preço total de R$ 1.500,00.

Maria Lucirene encontrou a superação da pobreza no modelo produtivo do Ecoquintal lucrativo. Ela conta com orgulho que investe na educação de todos os filhos como caminho para continuar melhorando de vida. A filha, Beatriz Cristina, fez o curso técnico de Agroindustrialização no Instituto Federal do Maranhão (Ifma) e agora se prepara para fazer a prova do Enem para ingresso na universidade. "Ela vai fazer administração para administrar o próprio negócio da família", disse Maria.

Ela fez o caminho inverso da maioria, trocando a cidade pelo campo e deixando o segmento de vendas como trabalhadora urbana, para se tornar agricultora familiar. Maria morava na Cidade Operária, na Zona Urbana de São Luís, e sobrevivia complementando a renda da família com a venda de cosméticos e com o benefício do programa Bolsa Família. Maria lembra o passado, quando andava de bicicleta vendendo cosméticos e diz que hoje tem casa de alvenaria com três quartos e três banheiros. Agora ela se prepara para comprar um carro para o transporte da sua produção.

Maria Cristina foi outra que também encontrou no Ecoquintal a mudança da situação de pobreza para a atividade empreendedora lucrativa. Ela diz que deu prioridade para comprar um veículo para transportar a sua produção com o lucro obtido no seu Ecoquintal, e já está construindo uma casa de laje. Agricultora na Maiobinha, ajudando os pais no plantio de hortaliças, ela abandonou a agricultura familiar, indo morar na Vila Conceição, no bairro do Coroadinho em São Luís, vendendo roupas para ajudar na renda familiar. Foi quando conheceu o modelo de produção do Ecoquintal, o que a fez retornar para a agricultura familiar. Maria foi considerada a melhor aluna do curso de extensão que as agricultoras empreendedoras nos Ecoquintais fizeram na Universidade Federal do Maranhão, "Desenvolvimento Rural Sustentável (DRS) Caprinocultura Leiteira". Ela também mantém em sua casa um restaurante que fornece cozido de frango caipirão por encomenda.

"Antes eu não tinha criação de galinha e patos nem açude de peixes, vivia de salário mínimo. Agora sustento o meu próprio negócio", relatou.

Sistema Agroecológico
A agricultora Ana Maria de Souza, primeira moradora de Calembi, também encontrou no Ecoquintal a superação da extrema pobreza e o sossego que precisava para ela e a grande família (nove filhos, nove genros e noras e quinze netos). Quando adolescente Ana sobreviveu se vestindo de homem para poder limpar canoas de pescadores e, em troca, conseguir alimentos para os pais. Em 2005, ela chegou em Calembi e passou a trabalhar com o marido e os filhos na lavoura, utilizando o sistema de roça no toco, queimando a terra para poder plantar.

Quando o sistema agroecológico do Ecoquintal chegou à comunidade há quatro anos, Ana aprendeu a produzir sem tocar fogo na terra, preservando a vida do solo, aproveitando as proteínas das folhas que caem no solo e os outros adubos naturais, e fazendo o aproveitamento sustentável da área de produção. Com o conhecimento adquirido no curso de extensão da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), como o do plantio de árvores menores embaixo das maiores, ela fez um sítio com a plantação de variados tipos de árvores frutíferas.

Os nove filhos e três noras de Ana foram qualificados em produção irrigada de hortaliças em 2012, numa ação do Programa Geração Futura da Agricultura Familiar, da Secretaria de estado de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) que prepara jovens filhos de agricultores familiares em atividades produtivas, para darem continuidade à produção rural familiar. De lá para cá, os 12 jovens já fizeram 11 colheitas de hortaliças, numa experiência exitosa de empreendedorismo para jovens rurais.

Produtos
As agricultoras empreendedoras dos Ecoquintais produzem e comercializam produtos como peixe tambaqui (média de 1.000 kg por safra), pato, galinha caipira e caipirão, cabras, suínos, grama esmeralda, noni, entre outras frutas, hortaliças e sabonetes de plantas medicinais como vinagreira roxa e nin; de mel; de própolis; de leite de cabra e de argila.

Esforço conjunto
Diversas instituições acreditaram nos Ecoquintais idealizados por Jeane e sua família, e ajudaram os agricultores a instalarem as unidades de produção em seus quintais. O Governo do Estado, por meio da Sedes, construiu um poço artesiano em Calembi; a Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Agerp), vinculada à Sedes, presta assistência técnica na criação de peixes e galinha caipira, e tem promovido dias de campo para disseminação de tecnologias, e o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), também ligado à Sedes, está providenciando a titulação definitiva das terras para as famílias que moram no local.

Além de qualificar os agricultores em criação sustentável de cabras, a Uema, também, contribuiu com o projeto, e acaba de construir uma usina de laticínios em seu campus no bairro da Cidade Operária para o beneficiamento do leite de cabra oriundo dos Ecoquintais, que servirá ainda como escola para estudantes universitários e local de divulgação para visitação pública. A Fundação Banco do Brasil, também, doou um furgão para o transporte do leite, o Banco do Brasil financiou a criação de cabras e a Secretaria Municipal de Agricultura (Semapa) participa com assistência técnica aos agricultores na criação dos animais.

Fonte: O Imparcial

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