quarta-feira, 29 de maio de 2013

Em sintonia, Marina Silva e Fernando Gabeira tecem críticas ao governo federal

(por Sandro Ferreira)
Na noite desta segunda-feira (27), o projeto Fronteiras do Pensamento reuniu, no palco do Salão de Atos da UFRGS a historiadora e ex-ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, e Fernando Gabeira, jornalista e ex-deputado federal. Marina e Gabeira, que fizeram trajetória semelhante na política partidária, no caminho que levou do Partido dos Trabalhadores ao Partido Verde, mostraram sintonia na crítica ao governo federal. Hoje, Marina Silva busca assinaturas para a formalização do seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, enquanto Gabeira permanece entre os quadros do PV.
Marina Silva e Fernando Gabeira participaram da segunda conferência do Fronteiras do Pensamento em 2013: no tema, a questão ambiental no Brasil |Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Em conferência intitulada “O Brasil e a questão ambiental”, os ambientalistas discutiram o histórico das políticas voltadas para o meio ambiente e a situação do tema no governo de Dilma Rousseff. Quanto aos projetos políticos da petista, coincidiram em grande parte das críticas e discordaram apenas no que diz respeito à importância do pré-sal para os recursos energéticos do país. Gabeira afirmou que o Brasil trata da questão ambiental de forma não-linear, com avanços e retornos frequentes, mas que com Dilma “há certa tendência ao retrocesso”.


Mais de uma vez, o ex-deputado mostrou-se pessimista com as possibilidades de o país assumir certo protagonismo no assunto, já que não vê “a estrutura mental” necessária nos líderes atuais. Para Gabeira, o PT na presidência da República trouxe consigo uma linha política “parecida com o comunismo do Leste Europeu”, ao menos em relação ao desenvolvimento das cidades que não leva em conta a preocupação com os possíveis danos ambientais.
Para Fernando Gabeira, embora o país tenha condições materiais para propor uma nova forma de desenvolvimento, “falta estrutura mental” para o Brasil | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O jornalista admitiu que “há disputa dentro do partido sobre os temas ambientais”, mas que nos momentos decisivos “acaba prevalecendo a opinião das lideranças”. Foi por esta conduta, segundo ele, que ocorreram episódios como o do uso de sementes transgênicas sem pesquisa prévia, por exemplo. Para Gabeira, “o caminho mais rápido não passa pelo governo federal”, e que é preciso pensar “na inteligência coletiva para dirigir as cidades”. Sobre o papel da energia para um desenvolvimento sustentável, Fernando Gabeira comparou o Brasil com os Estados Unidos sem evitar o deboche: “o governo de Barack Obama escolheu um Nobel de Física para o setor. E, enquanto isso, quem é o nosso ministro? É o Lobão…”.
Marina lamenta “crise civilizatória”, mas acredita no surgimento de uma nova militância
Antes da conferência de Marina e Gabeira, militantes da Rede Sustentabilidade coletavam assinaturas de apoio para a criação do partido no lado de fora do auditório. Segundo o site oficial da Rede, faltam cerca de 100 mil assinaturas para que se atinja o número de 500 mil, mínimo necessário para formalizar a criação. Já no discurso, Marina afirmou que, por trás das crises políticas, econômicas e sociais, há um fenômeno maior, “uma crise civilizatória”. “A maior parte dos problemas da política brasileira são éticos, e não técnicos”, defendeu a ex-ministra.
Marina Silva opinou com otimismo sobre “uma nova militância participativa”, e buscou afastar o discurso da campanha eleitoral antecipada | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Marina recordou várias vezes o período em que coordenou o Ministério de Meio Ambiente. Segundo ela, na sua gestão foi possível “reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia” ao passo em que, agora, “a proporção da crise política brasileira é bizarra”. A historiadora mencionou o aumento constante da estrutura pública, “que já chega a 39 ministérios, com cada um querendo um pedacinho do Estado para chamar de seu”, e a ausência de referências à energia solar no Plano Decenal de Energia do governo.
A ambientalista só discordou visivelmente de Gabeira em um momento da conferência, e ainda assim de forma sutil: quando, no período reservado para as perguntas do público, foram questionados sobre as reservas do pré-sal como solução energética. O ex-deputado defendeu que “o pré-sal é antes um problema que uma solução”, e que a exploração do petróleo pode resultar em “contaminação e poluição no litoral do Rio de Janeiro”. Para Marina, no entanto, “a humanidade ainda não pode prescindir do petróleo para a energia, mas o que o governo trata como certeza é apenas uma possibilidade”.
Se não houve discordância entre ideias, os dois se diferenciaram quanto ao otimismo. Gabeira deixou claro que não vê “capacidade de deslumbrar o mundo com um novo paradigma” por parte do Brasil, ainda que as condições materiais estejam dadas. Marina, por sua vez, afirmou confiar “no surgimento de uma nova militância, não mais dirigida pelo comando de sindicatos e partidos, mas guiada por um ativismo autoral”. A ambientalista, por último, tentou afastar o discurso da campanha eleitoral antecipada para as eleições presidenciais de 2014: “sou contra adiantar o debate sobre as eleições, precisamos de um pouco de descanso”.

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