terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Finalmente, um ministro que fala como petista

Nos últimos dias, as declarações do ministro Gilberto Carvalho soaram como música para quem sempre acreditou que o discurso petista não era blefe.



Nos últimos dias, as declarações do ministro Gilberto Carvalho soaram como música para quem sempre acreditou que o discurso petista não era blefe.
Com coragem e honestidade (é possível até aventar que as declarações teriam motivação nas disputas que antecedem a reforma ministerial, mas isto já é pura especulação), Carvalho, conhecido por sua fidelidade absoluta à Lula, começou afirmando que as manifestações de junho deixaram o governo perplexo e com sensação de ingratidão. Nada mais coerente. Se ficaram perplexos é porque – como a quase totalidade dos brasileiros, ressalte-se – não sabiam do que estava sendo armado e os sentimentos difusos que envolviam parte significativa da população. Ora, sem saber do tsunami que se formava nas profundezas do oceano, seria mais que certo que não se entendia os motivos para tanta raiva contida. Afinal, o governo e o PT estão focados nos processos eleitorais. Falam mais para os adversários que para sua base social (ou a base social que pretendem defender e atender prioritariamente). Daí tantas comparações com o governo FHC, justamente porque, na comparação, estão fazendo tudo certo. O problema é que estão anos-luz das promessas petistas, desde sua fundação. E é aí que mora o perigo para os petistas.
Basta uma passada de olhos nas postagens do baixo clero petista nas redes sociais para perceber o pavor do que o inusitado das ruas pode provocar nas eleições de outubro. Algo extremamente estranho para a história petista. A argumentação “chapa branca” desses militantes virtuais (os mais exaltados, evidentemente) leva sempre ao mesmo ponto: o voto útil. Qualquer crítica pública ou apoio aos protestos de rua já são enquadrados como “fazendo o jogo da oposição”. Em seguida, o mais grave, começam as ofensas pessoais e “provas”, fundadas na velha teoria conspiratória, de financiamento estrangeiro e articulações fascistas que formariam a base dos que adotam o “quanto pior, melhor” como mote de vida.
Mas, aí, vem à público a velha guarda petista, fundada em valores cristãos (conheço Gilberto Carvalho desde os tempos em que contribuí com o Instituto Cajamar, na formação de dirigentes sindicais cutistas), que não fica ajoelhado a esta parca argumentação fútil e imediatista e nos brinda com estas declarações:
“Neste momento nos damos conta que as conquistas importantes que tivemos estão dadas. Foram importantes, mas absolutamente insuficientes. Tivemos um processo de inclusão social inegável e devemos nos orgulhar disso. Mas temos que reconhecer que foi absolutamente insuficiente. A corrida veloz para o consumo não foi acompanhada de um grande debate em torno de outros valores”.
Não poderia ser mais correto politicamente.
Obviamente que os petistas exagerados e com baixo compromisso público devem ter se desesperado. Não há motivo algum. Ao contrário. A fala do ministro retoma o compromisso estratégico de um governo petista, algo que está quase morto em alguma gaveta.
O que Carvalho sugere é a necessidade de uma nova geração de políticas focadas não apenas na transferência de renda, mas na promoção política e de valores. No meu entender, retoma as teses gramscianas que acalentaram o PT e a igreja católica progressistas nos anos em que as duas forças estiveram nas ruas, de onde brotava a energia moral. Naquele período, os ataques ferozes ultraconservadores (envolvendo até mesmo parte da esquerda tupiniquim) eram tratados com ironia e bom humor, tendo Lula à frente. Por que não agiam como os chiuauas virtuais de hoje? Porque não havia necessidade alguma. Porque a base social, ou a parcela mais organizada da base social preferencial petista, estava aliada ou se sentia representada. E, também, porque naquele momento, o PT tinha como foco a construção da hegemonia (os valores e crenças) da sociedade que levaria, como consequência, ao governo. Era a máxima gramsciana: “é possível ter poder sem ser governo”.
O PT de hoje inverteu esta lógica porque tem menos crença. É mais pragmático porque é mais imediatista.
E é este o motivo da militância (que denomina de “baixo clero”, termo criado por Ulysses Guimarães) virtual petista se desesperar e desfechar ataques pessoais procurando desqualificar qualquer argumento crítico à atual quadra da história petista: o foco nas eleições.
Assim, o PT se aproximou da lógica do sistema partidário brasileiro e se soma à mesmice que procurava reformar.
Há sentido, portanto, no desespero da militância petista virtual. Para o foco atual do PT. Não para o que motivou sua fundação, muito menos para a identidade que construiu a duras penas.

Em suma, os militantes virtuais podem ser tudo, menos petistas. Ao contrário do ministro Carvalho.
fonte: http://revistaforum.com.br/

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