quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O rolé e a nova classe C


Jandira Feghali *

Na última década, desde que 42 milhões de brasileiros ascenderam socialmente para uma nova faixa de consumo, o Brasil viu um novo rosto surgir em espaços antes considerados reservados aos mais abastados.


Como se esse rosto nunca tivesse existido. Famílias viajando pela primeira vez de avião, adquirindo produtos da linha branca e computadores. O acesso ao crédito, novos postos de trabalho e a melhora na renda do brasileiro (fruto dos governos Dilma e Lula) deram novas possibilidades a esses cidadãos. Cidadãos que sempre existiram, mas marginalizados pela concentração de renda do capital representado por segmentos detentores de poder durante décadas.

E, da mesma forma que os mais ricos torceram o nariz para esses novos consumidores, também condenam os jovens que iniciaram o movimento do “Rolezinho”, um “rolê” ou “passeio”, na gíria jovem. Meninos e meninas, mais especificamente da periferia dos grandes centros urbanos, que querem se divertir ou entreter. Marcam um ponto de encontro e vão com suas roupas da moda, tênis de marca ou acessórios que seus pais não conseguiriam comprar uma década antes. É o rolezinho dos filhos dos trabalhadores que melhoraram suas condições de vida. Não são ladrões nem vândalos.

Defendemos o direito de trabalho dos comerciantes, assim como o direito de ir e vir. Contudo, não podemos esquecer que locais, como shoppings, são objeto de desejo também desses jovens que crescem agora num cenário diferente, consumindo marcas e modelos de roupa que faziam parte apenas da realidade dos filhos dos mais ricos. São jovens ambicionando, aos poucos e em diferentes dimensões, as mesmas coisas que os outros podem consumir, vestir ou transitar.

Contudo, os jovens de periferia, ainda sem alternativas culturais e de lazer, são reprimidos de forma descontrolada e despreparada, com violência policial, como ocorreu num templo do consumo paulista. Cassetetes e bombas de fumaça voaram no ar em ação parecida como a que manifestantes viram nas ruas em junho do ano passado. E mais inusitado, contra jovens que apenas queriam se divertir. Turmas da USP circulam em festas com centenas de jovens nos mesmos shoppings e nenhum policial é acionado.

Ao Brasil cabe ouvir e atender demandas democráticas, incorporar seu povo sem discriminação, garantir cultura e educação para todos, lazer e renda. O Brasil, com toda sua diversidade tem um único povo. Superar preconceitos e desigualdade é missão política onde os protagonistas são seus cidadãos.
* Foi Deputada Estadual, está no quinto mandato de Deputada Federal, Secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói e Secretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Relatou a Lei Maria da Penha e atualmente preside a Comissão de Cultura da Câmara de Deputados
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.

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