domingo, 12 de janeiro de 2014

Quem paga o preço das alianças de Sarney é o povo do Maranhão

Junho mostrou que há uma juventude sequiosa de justiça social para a qual são intoleráveis as alianças do PT com o que existe de mais atrasado no país – de Sarney a Maluf.

(Por Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo)

Cúmplices
Cúmplices
Há, num site da Globo, um espaço dedicado à memória de Roberto Marinho.
Sarney está lá. Uma condensação, abaixo:

“O senador José Sarney e Roberto Marinho foram amigos pessoais até o fim da vida do jornalista.
Quando era presidente, Sarney visitava Roberto Marinho sempre que vinha ao Rio de Janeiro.
Sarney relembra: “Foi se estabelecendo uma ligação mais estreita, mas sempre marcada, do meu lado, pelo tom reverencial em relação a ele. Até mesmo porque, naquele tempo, ele já tinha essa extraordinária história.”
A amizade entre os dois também foi intensa no campo das artes.
“Eu gostava do Dr. Roberto não só pela influência que ele tinha, mas porque era um homem sensato. Um bom conselheiro. Sob esse ângulo, ele realmente era uma âncora para se apoiar.”
Amigos. Bem, acho que a palavra mais correta é cúmplices. Roberto Marinho e Sarney fizeram um trabalho de predação, um do Brasil, outro do Maranhão.
Ao fim da parceria, encerrada pela morte de Roberto Marinho, os dois estavam riquíssimos – e o Brasil e o Maranhão, alvos deles, repletos de miséria.
Gosto dos detalhes do texto da Globo sobre a memória de Roberto Marinho no capítulo de Sarney.
Gosto da forma elegante, e abjetamente cínica, com que Sarney aparece na frente de Roberto Marinho logo na introdução.
E gosto também do que Sarney deixa revelar quando fala de sua amizade, aspas, com Roberto Marinho. “Não só pela influência”, disse ele.
Sarney traiu, aí, seu caráter. Ele deixou escapar, involuntariamente, quanto a “influência” pesava nas suas escolhas de amizade.
Outra amizade que ele cultivou, pela influência, foi a de Lula. Deu a Lula apoio, e governabilidade, em troca de que nada fosse mexido no Maranhão, fonte de sua pilhagem de décadas.
As vítimas desse acordo tão revelador do Brasil moderno foram nossos irmãos invisíveis do Maranhão – brasileiros que ninguém vê e que estão entregues à ganância de Sarney sem que ninguém os proteja.
Os maranhenses estão expostos a uma manipulação absoluta da mídia, e por isso votam na família Sarney e em seus fâmulos no Maranhão.
A família monopoliza a mídia local: a afiliada da Globo lá é dela, e fora isso há rádios, jornais etc.
Você pode imaginar o obstáculo à regulamentação da mídia representado por Sarney.
Isso quer dizer que ele faz mal não apenas ao Maranhão, mas ao Brasil.
E então chegamos a um ponto complexo.
A aliança entre Sarney e Marinho era uma coisa de almas gêmeas. Mas e entre Lula e Sarney, em nome da governabilidade petista?
Sarney imaginou ter comprado, com a aliança, o silêncio dos petistas em relação aos horrores do Maranhão – fora a omissão para que a rapinagem continuasse.
É como se fosse proibido, no PT, falar do Maranhão e de Sarney.
Circula na internet um vídeo que diz tudo. Numa visita ao Maranhão, Lula é questionado sobre Sarney. Ele responde ao jornalista que ele tinha “preconceito” contra Sarney, e que isso era caso de terapia psicológica.
“Preconceito”, como se a obra destruidora de 50 anos da família não estivesse exposta ao mundo.
Numa enquete no DCM, boa parte dos leitores diz que a parceria entre Sarney e Lula é um “mal necessário”. O Brasil teria lucrado mais que perdido com ela, esta é a lógica.
Um momento.
E os milhões de maranhenses que morrem mais cedo que nós e vivem em condições subumanas, eles não contam?
Não, não contam. Esta é a verdade. Assim como não contam os índios, quando acordos com ruralistas são feitos em nome da governabilidade.
Assim como não contam os desvalidos cujas obras estavam no caminho da Copa, em nome sabe-se lá do quê.
Os movimentos de esquerda sob o comando do PT – dos sindicatos à UNE – de uma maneira geral vêm aceitando esse jogo.
Mas junho mostrou que há uma juventude sequiosa de justiça social para a qual são intoleráveis as alianças do PT com o que existe de mais atrasado no país – de Sarney a Maluf.
Em 2014, ano de eleições presidenciais, o PT vai ter que fazer uma escolha de Sofia.
Suas parcerias podem trazer uma certa tranquilidade política, como tem ocorrido.
Mas os jovens esquerdistas que não as toleram – por exemplo a garotada do Passe Livre – podem, por causa delas, ir de novo às ruas, com consequências imprevisíveis nas urnas.
Junho surpreendeu, pela repulsa de tanta gente nas ruas à política como ela é no Brasil. Todos imaginavam que os movimentos de esquerda capazes de mobilizar as pessoas – a direita não mobiliza nada – estavam na órbita do PT, amestrados e controlados.
Novos protestos não surpreenderão.
Vai ser, repito, uma escolha de Sofia para o PT.

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