Um país que assume a condução do próprio futuro o faz a partir de um projeto de desenvolvimento nacional, o que exige fortalecimento da engenharia. Diante das investigações, é necessário preservar as empresas por sua função econômica e social.
Por Clemente Ganz Lúcio*, no Brasil Debate
Foto: Moreira Jr./Divulgação
Transposição do Rio São Francisco (Floresta-PE)
Alçar o Brasil à condição de país desenvolvido é um objetivo que requer uma estratégia de crescimento sustentado e distribuído em todo o território, fazendo frente às graves desigualdades aqui presentes. Há enormes déficits no campo e nas cidades em termos de infraestrutura econômica e social, mazela cuja superação abre a oportunidade para o investimento e o crescimento econômico.
O desenvolvimento social exige o crescimento sustentado pelo investimento público e privado que incrementa a produtividade, amplia a capacidade produtiva e os empregos, permite crescimento dos salários e promove transformações distributivas necessárias para superar as desigualdades.
Um país que assume a condução do próprio futuro o faz a partir de um projeto de desenvolvimento nacional. Isso requer, entre outros importantes elementos, o fortalecimento da engenharia como capacidade cognitiva capaz de transformar sonhos e ideias em projetos, que se materializam em obras, máquinas e processos de trabalho. Sem engenharia não há projeto de desenvolvimento!
O Brasil desenvolveu uma grande capacidade de engenharia em várias áreas: civil, mecânica, elétrica, eletrônica, aeronáutica, química, entre tantas outras. Foram estruturadas empresas com grande capacidade de elaboração e implantação de projetos em vários campos da engenharia, inclusive no setor da construção.
Na última década, foram recuperados os investimentos em infraestrutura econômica e social que se espalhou em milhares de obras distribuídas em todo o território nacional, grande parte mobilizada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e pelos investimentos do Pré-sal. Atualmente, o setor da construção representa em torno de 8% do PIB e mais de 40% dos investimentos, mobilizados por mais de 240 mil empresas, das quais 35 mil no setor da construção pesada, gerando mais de 2,5 milhões de empregos diretos.
Este setor é responsável por boa parte das ferrovias, estradas, usinas, torres, casas, escolas, dos portos, aeroportos, prédios, postos de saúde, entre tantas outras construções que, nos últimos anos, surgiram nas cidades e no campo.
A solução estrutural para os graves e antigos problemas agora revelados exige a sabedoria de separar a responsabilidade das pessoas e a preservação da competência e capacidade instalada nas organizações e empresas. É preciso viabilizar nova governança pública e privada para a elaboração de projetos e a execução das obras e compras públicas.
Essa governança exige transparência e lisura nos processos de contratação, bem como políticas bem elaboradas de fortalecimento das empresas nacionais, da capacidade interna de produção de máquinas e equipamentos, de domínio do conhecimento científico transformado em tecnologia e aplicado no chão da empresa como inovação.
Deve-se ter firmeza na punição dos responsáveis pelos crimes investigados. É preciso, entretanto, usar a força das lideranças e das instituições para defender e fortalecer o patrimônio nacional incorporado na capacidade de milhões de brasileiros e brasileiras que trabalham em centenas de diferentes ocupações no campo da engenharia.
É necessário criar mecanismos institucionais e administrativos, transparentes, que permitam à sociedade e ao Estado, preservar as empresas pela função econômica e social que elas possuem, promovendo transições acionárias e inovação da governança.
Um projeto de desenvolvimento nacional é uma obra em permanente construção! Diante dos desastres, a hora é de reconstrução.
*Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do Dieese, membro do Cdes – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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