Por Miguel do Rosário, no
blog O
Cafezinho:
A política brasileira deveria inaugurar
urgentemente um golpômetro, então eu dou a partida e passo, a partir de agora, a
fazer um, com periodicidade semanal.
É um índice de larga abrangência, de
1 a 20, porque precisaremos de muitos nuances. O número 1 corresponde a risco
zero de golpe. Número 20, golpe certo.
Nesta segunda-feira, diríamos que
o golpômetro subiu dois pontos em relação à semana passada, em função de fatores
sobre os quais irei discorrer abaixo, e bateu a marca de 12 pontos, com viés de
alta de mais um ponto para o resto da semana.
O ser
humano é tão incrível que já estamos nos acostumamos até mesmo com essa
situação, esse caminhar à beira do abismo.
Nas últimas semanas, algumas
coisas ficaram mais claras. A estratégia da oposição não foi, exatamente,
desistir do golpe, e sim empurrá-lo para mais adiante, quando o processo de
manipulação da opinião pública estiver mais avançado.
A superexposição do
"ministro" Gilmar Mendes (TSE e STF), fazendo com ele apareça, junto à mídia,
como único ministro do STF e único ministro do STE, revela que Mendes se tornou,
efetivamente, o grande líder do golpe.
Imaginar que ele será o próximo
presidente do STF, a partir de setembro de 2016, não oferece perspectivas muito
felizes ao longo da segunda metade do mandato de Dilma.
A entrevista
que Gilmar deu ontem ao Correio Braziliense mostra um quadro político
inteiramente voltado a serviço da derrubada do governo. E ele não esconde
isso.
Na entrevista, Mendes deita falação e pré-julgamentos, sem o menor
pudor, sobre fatos que a corte irá julgar. E age muito mais como um político do
que como um magistrado, rompendo todos os códigos de ética criados para que
juízes não interferissem no jogo político.
Num ponto da entrevista, o
repórter pergunta a Mendes: "Não dá para dizer então que a presidente não
sabia?"
Mendes, malandro, dá um drible verbal: "Não vou emitir juízo
sobre isso. Agora, a mim me parece que é difícil qualquer pessoa que estava em
posição de responsabilidade dizer que desconhecia essas práticas. "
Ou
seja, diz que não vai emitir juízo e, em seguida, emite.
A entrevista é
inteiramente repleta de joguinhos assim, mas é interessante porque nos fornece,
em detalhes, o roteiro do golpe, que precisará ser embalado numa fôrma
legal.
Para isso, é preciso antes aprofundar a narrativa de que haveria,
como diz o ministro, um "método de governança" ancorado na corrupção, e numa
"concepção ideológica, de que Estado e partido se confundem".
A teoria é
bem doida. Segundo ela, bancos, empreiteiras, diversas grandes companhias
brasileiras, todas teriam dado apoio ao PT em sua busca pela instalação do
maoísmo comuno-petista no Brasil.
Lula, o grande mentor desse plano
macabro, teria tido financiamento (ele mesmo abriu os dados, após a quebra de
seu sigilo bancário) de Microsoft, Odebrecht, dezenas de grandes empresas, todas
elas interessadas em apoiar o sinistro projeto petista de
poder.
Entretanto, depois do que fizeram no mensalão, em que
transformaram a Visanet em empresa pública e condenaram Pizzolato por um desvio
que não ocorreu, e que, se tivesse ocorrido, não teria sido ele o responsável,
está claro que terão agora muito mais elementos para brincar de montar
narrativas.
Desmontar essas farsas não seria tão difícil, tivesse o
governo instrumentos para se comunicar diretamente com o povo. Mas os poucos que
o governo tinha, como o Café com a Presidenta, foram deliberadamente
abandonados.
Gilmar ainda aproveita a entrevista para ofender blogs
críticos à sua atuação com acusações levianas e, até mesmo criminosas, no limite
da injúria e da difamação. Para autoritários como Gilmar, deveria existir apenas
essa imprensa cartelizada, que agora lhe incensa, que abafa escândalos, apenas
essa mídia herdeira da ditadura e da privataria.
Sou contra a
judicialização da política e do debate político, mas Nassif está de parabéns por
processá-lo, pela simples razão de que foi Gilmar quem processou Nassif
primeiro.
Outro fator a elevar a instabilidade política é o
aprofundamento da crise econômica. Hoje, segunda-feira, o boletim
Focus do Banco Central, que apura semanalmente as expectativas do mercado
para a economia, estimou uma queda de 2,26% no PIB deste ano. É uma queda enorme
para uma economia do nosso tamanho. Se confirmada, será a maior que tivemos em
bastante tempo.
Para 2016, espera-se nova queda no PIB, de 0,4%.
É
óbvio que a instabilidade política dessa vez explodiu como bomba no colo da
economia brasileira. Além disso, o ajuste fiscal foi feito com muita
brutalidade. Aumento de juros, cortes de gastos, tudo feito de maneira brusca,
sem a sensibilidade necessária para que não resultassem em redução da atividade
econômica e, portanto, queda na arrecadação, neutralizando o próprio objetivo do
ajuste.
A Lava Jato, que ingenuamente achamos ter chegado a uma etapa
declinante há algumas semanas, ganhou corpo de maneira extraordinária. Seus
procuradores, o juiz Sergio Moro, Gilmar Mendes, além da mídia, retomaram os
trabalhos de imagem junto à opinião pública. Diferente do governo, esses agentes
da oposição dão importância à comunicação e ao simbolismo das coisas. O
Ministério Público brandiu uma suposta "devolução" de 1 ou 2 bilhões de reais
aos cofres públicos, número abstrato mas encorpado, para galvanizar a operação
com uma tinta generosa, deixando de lado a própria realidade econômica, que
mostra um país em forte recessão dentre outras razões justamente pela maneira
como a operação foi conduzida.
Nos anos que sucederam a II Guerra, as
grandes empresas europeias que haviam apoiado o nazismo, não foram destruídas
por nenhuma campanha moralista, mas salvas com dinheiro público. Algumas foram
incorporadas ao Estado, como a Renault francesa, para que não houvesse
desemprego. Bush fez a mesma coisa com a General Motors: estatizou-a. Aqui no
Brasil, fez-se campanha aberta para destruir as principais empresas brasileiras
de engenharia e construção civil, e agora se fala que devolverão R$ 2 bilhões,
como se isso pagasse o prejuízo para o Estado de termos empresas, que pagavam
bilhões de reais, todos os anos, na forma de impostos, além da geração de
empregos, fechando as portas e falindo.
Esta semana, a novela
da Lava Jato terá como personagem principal o ex-deputado Pedro Correa, que
decidiu aceitar acordo de delação premiada. Político astuto e conservador, não
será surpresa se Correa fizer o jogo manjado da Lava Jato. O destino feliz dos
delatores que entraram no jogo (Barusco, o corrupto mais antigo e mais intenso
de todos, já está curtindo praia em liberdade) dos procuradores e Sergio Moro já
delineou para todos os réus o caminho a ser seguido: ajudar a montar o
quebra-cabeça já previamente elaborado pela acusação. Os procuradores e Moro
conseguiram convencer vários réus a colaborarem: ainda veremos as delações de
Marcelo Odebrecht, Nestor Cerveró e Fernando Baiano.
A pontuação do
golpômetro ainda pode subir um bocado antes de voltar a baixar.
O script
disso tudo está sendo muito bem preparado.
Em Minas Gerais, o governador
Pimentel entra
na mesma máquina de moer reputações que corrói o PT em toda parte. A PF
tucana está mordendo seu pé, tentando criar uma Lava Jato mineira para lhe
derrubar. O fato de Pimentel possuir um longo rabo de "consultorias"
milionárias, cobradas de sindicatos patronais, não lhe ajuda muito.
Até o
momento, tudo indica que Pimentel enfrentará essas acusações ao "estilo Dilma",
ou seja, usará a tática de apanhar calado, de maneira que o esforço dos
movimentos sociais de criar, em Minas, um núcleo nacional de resistência contra
a escalada conservadora e golpista, encontrará dificuldades.
Por fim,
temos um PT e governo ainda em curto-circuito político. A ideia de recriar a
CPMF durou poucos dias, e apenas serviu para ilustrar a desorganização política
de ambos.
O PT continua preocupado demais em oferecer algum tipo de
proposta à sua militância. Falar em CPMF, sem antes fazer uma trabalho de
esclarecimento sobre a questão tributária no país, é evidentemente estupidez. A
mesma coisa vale para o imposto de grandes fortunas.
Um auditor fiscal de
Minas, blogueiro, e leitor do Cafezinho, que estuda há anos a questão do tributo
sobre as heranças, publicou um
artigo, com gráficos, que mostra como a nossa opinião pública é mal
informada, e como o governo e o PT são incompetentes ao tratar de qualquer
questão tributária sem antes trazer comparativos entre países.
Até a
década de 70, EUA e Inglaterra financiaram suas estruturas sociais com alíquotas
máximas altíssimas sobre o imposto de herança, de 80% a 90% do total! Hoje
baixaram essas alíquotas máximas para 40%. Mesmo assim, observa-se que o Brasil
possui as menores alíquotas máximas tributárias no mundo.
Não se pode, em plena crise econômica, falar impunemente de
aumento de impostos. É preciso antes reduzir a evasão fiscal, simplificar e
racionalizar os processos de pagamento, reduzir para os pequenos, para os
empreendedores, para a classe média, e aumentá-los, após inteligente campanha de
esclarecimento, para os setores sociais mais ricos.
A cultura da
sonegação, por sua vez, deve ser combatida com inteligência, não com truculência
judicial, não com criminalização do empreendedorismo, mas com reformas que
simplifiquem o pagamento de tributos, descentralizem as cobranças, e prometam
maior eficiência e transparência no uso dos recursos.
Postado por Miro às 19:45
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