domingo, 15 de dezembro de 2013

A CRISE NEOLIBERAL E A RESISTÊNCIA JUVENIL NA ITÁLIA.

A regressão trabalhista na Itália

Por Roney Rodrigues


Pelas ruas das principais cidades da Itália, milhares de jovens marcham contra o governo. Empunham cartazes denunciando o crescente desemprego e políticas de retirada de direitos sociais. Vociferam contra a repressão policial. Exigem mudanças urgentes. Os gritos são uníssonos: “Vocês estão roubando nosso futuro”. 


Não é para mesmo. De acordo com os dados divulgados nesse mês pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat) da Itália, a taxa de desemprego global do país atinge 12,2%, a maior desde 1977. O desemprego para os jovens entre 15 e 24 anos de idade ultrapassa os 40%, 5,5% a mais que no mesmo período de 2012.

“Os jovens proletários estão profundamente envolvidos nos movimentos anticrise”, afirma o italiano Marco Benevento, um dos lideres da Unione Sindacale di Base (USB), que esteve no Brasil para o 2º Congresso da União Internacional Sindical (UIS) dos Metalúrgicos e Mineiros, realizado pela Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal).

Para ele, em um momento em que o movimento dos trabalhadores europeus se enfraquece devido a crise econômica de 2008, somente “uma união mais forte entre os trabalhadores em nível continental e internacional” pode fazer frente às vicissitudes do capitalismo.

O senhor veio ao Brasil para dar um panorama da metalurgia, e outras atividades semelhantes, no seu país. Como a crise econômica de 2008 a afetou?

A Itália é o segundo país mais industrializado da União Européia, embora a maior parte de suas empresas (95%), seja de pequeno e médio porte. Juntamente com outros setores, a mineração e a metalurgia enfrentam os efeitos da crise sistêmica e da concorrência global. Décadas de privatizações e políticas de deslocalização, iniciadas nos anos 80, desindustrializou o país de maneira significativa, cortando pela metade o número de metalúrgicos. 

O atual governo de coalizão (centro-direita e centro-esquerda), liderado pela Troika, continua vendendo as principais indústrias, como Ansaldo Energia, Alitalia e Telecom. Os líderes europeus estão aumentando a exploração da força de trabalho, removendo os recursos de dentro de suas fronteiras e nos países periféricos, com o apoio explícito dos membros da Confederação Sindical Internacional.

Como estruturar o movimento sindical no seu país? Quais são os problemas e desafios? E os avanços conquistados?
Forte e grande resistência têm acontecido na Itália, mas o que é realmente necessário é uma categoria contraofensiva organizada e generalizada. Os fatores adversos são a nova organização de trabalho, baseados em precariedade e fragmentação, e a colaboração dos sindicatos da Confederação Sindical Internacional, que aceitaram acordos e leis que limitam o direito de se fazer greve. O Unione Sindacale di Base (USB) está ativo em algumas áreas industriais importantes, como a Fiat, Ilva, Finmeccanica, Carbon Sulcis, ENI e está trabalhando para conquistar uma presença mais estruturada na Itália.

O último Congresso da USB foi um momento importante para nossas ações sindicais e políticas. O primeiro passo foi organizar os dias de luta, em 18 e 19 de outubro, com duas demonstrações nacionais, em Roma, que contaram com a presença de mais de 120 mil pessoas. Começamos com o que a USB chamou de greve geral: acampamos no centro de Roma por dias, junto com os movimentos ambientais e por direito a moradia. Essa é nossa ideia de sindicato útil, que é capaz de gerenciar o atual nível da luta de classes. Esse novo modelo de sindicato une servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada, indústrias, aqueles em condições precárias e migrantes, exigindo salário, aposentadoria, moradia, educação e saúde.

Um movimento de trabalhadores - principalmente metalúrgicos e mineradores - pode se internacionalizar e, ao mesmo tempo, dar atenção aos problemas regionais? O que seria necessário para se criar condições para isso?
Acreditamos ser necessária uma união mais forte entre os trabalhadores em nível continental e internacional. O crescimento e o fortalecimento da UIS MM e da Federação Sindical Mundial (FSM) significa crescimento e fortalecimento de cada organização membro. Um movimento internacional, forte e organizado da categoria está se tornando cada vez mais importante.

De acordo com a previsão de crescimento da OCDE, a taxa de desemprego nos países da União Europeia deve crescer no ano que vem. Os números para a Itália são 12,5%, atingindo mais de 25% no seu auge, entre os jovens. Como os sindicatos lutam para confrontar esses problemas? Quais soluções estão sendo criadas para enfrentar o pessimismo entre pessoas dessa faixa etária?
O número de trabalhadores desempregados dobrou na Itália desde 1977, alcançando 2,8 milhões, dos quais 25% são jovens. E essa é a média. Em algumas regiões, esse número chega a 40%. A construção do polo imperialista europeu tem piorado esse ataque, já que, desde 2011, 1,8 milhões de trabalhadores perderam seus empregos na Europa. O desemprego e os ataques aos salários e aos direitos sociais estão afetando tanto o centro produtivo quanto a periferia da União Europeia.

Os jovens proletários estão profundamente envolvidos nos movimentos anticrise. As passeatas são abertas com o grito de guerra: “Vocês estão roubando nosso futuro”, que é um ponto em comum entre os jovens da classe trabalhadora. O congresso do USB, com diversos jovens delegados, decidiu lançar cinco campanhas específicas. Três delas dedicadas aos jovens lutando por um futuro com base em um padrão de desenvolvimento solidário e equalitário, como mostrado nas passeatas dos dias 18 e 19 de outubro, contra as soluções radicais tomadas pelo FMI, Banco Europeu de Desenvolvimento e União Europeia.

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