segunda-feira, 25 de novembro de 2013

MESA REDONDA NO ARNALDO: “AS JORNADAS DE JUNHO E A QUESTÃO DOS NEGROS NO BRASIL”.



Por Vagner Leandro*
No dia 22 de novembro de 2013 aconteceram diversos eventos na Escola Arnaldo Alves Cavalcanti em comemoração ao dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra. O evento que eu participei dando cobertura como Blogueiro foi a Mesa Redonda promovida pelo Professor Dedé Rodrigues com o Tema “As Jornadas de Junho e a Questão dos Negros no Brasil” que contaria inicialmente com os debatedores Joel Mariano, Dedé Rodrigues, Elias Mariano e Genildo Santana, mas por motivos superiores, os dois últimos não puderam participar. O debate foi com alunos das turmas do 4º Normal Médio, 3º Ensino Médio A e B e do 2º Ensino Médio C. Ainda participaram do evento as Professoras Rosineide Cavalcante, Lourdes Cezário, o futuro Professor de História Marcos Vinícius e as alunas Maria Auxiliadora e Aldineide Souza do 3º Ensino Médio C. O objetivo do evento, segundo o Professor Dedé Rodrigues, foi mostrar qual é a relação que há entre as jornadas de junho e a questão dos negros no Brasil, já que para ele “os fenômenos sociais não podem ser compreendidos quando analisados de forma isolada dos outros que os cercam”.  Leia a seguir o aprofundamento do tema feito pelo Professor Dedé Rodrigues e veja mais fotos.


O Professor Dedé Rodrigues apresentou um slide que denunciava o assassinato de 5 jovens negros por dia no Brasil. A denúncia feita pelo Presidente da UNEGRO, Édson França, dizia que as mortes eram patrocinadas pelo Estado. Mas qual Estado? Questionou o Professor. Segundo ele é o Estado Capitalista que promove esse massacre contra os negros.  Para mostrar a relação entre os fatos ele leu uma poesia de sua autoria que dizia:

Para a lei da Dialética
Os fatos têm “relação”
À parte é ligada ao todo
Pra nossa compreensão
Quem só olha para a parte
Só ver parte da questão.

Reforçando a sua tese ele disse que os movimentos sociais neste dia 20 de novembro de 2013 no Brasil lutavam pela desmilitarização das polícias, a reforma política e as ações afirmativas como as cotas raciais no serviço público. “Percebam que essas reivindicações, exceto as cotas raciais, são amplas e interessam a negros e brancos”. Disse.  

Na sequência ele apresentou diversas imagens das jornadas de junho que reivindicavam, entre outras coisas, uma reforma na mídia brasileira, reforma agrária, reforma na educação, demarcação das terras indígenas etc. O que é preciso para realizar essas reformas estruturais?  Pergunta ele. Na sequência ele questiona e responde:

Qual é a atual correlação de forças no Congresso Nacional?  “A maioria é conservadora, ou seja, dos partidos da direita e da (burguesia) estes são maioria do que os deputados dos partidos da esquerda, ou seja, (do proletariado)”. E reforça: Dilma ou qualquer outro presidente no Brasil só consegue aprovar leis se contar com a maioria no Congresso Nacional.

Aprofundando as jornadas de junho ele pergunta: como evoluíram as jornadas de junho no Brasil? E em seguida responde: “de movimento pacífico e amplo para uns movimentos reduzidos com reivindicações específicas e mais politizados com infiltração de uma minoria sectária, anarquista, marginal e violenta”. 

Quais são as consequências para o movimento dessa radicalização sectária e sem ampliação? São graves, pois afastam, nesta conjuntura, a maioria da população que estava empolgada com o movimento. “O gigante voltou a dormir”? Questiona ele. Segundo ele o movimento social e alguns partidos da esquerda no Brasil nunca dormiram.

Continuando ele apresentou alguns dados do IBGE e do DIEESE sobre os negros no Brasil que mostrava o quanto ainda há discriminação.

Vejam eles: IBGE – 71% dos negros consideram o mercado de trabalho o ambiente em que mais sofrem preconceito;

Apenas 8% dos parlamentares brasileiros são negros;

Quais são as instituições sociais no Brasil que os negros têm o mesmo tratamento que os brancos? Ele disse que não conhece. E continua:  

"A população negra morre, em geral, mais cedo, e suas mortes por causas evitáveis são mais frequentes“ disse a psicóloga Crisfanny Souza Soares.

Dado interessante: EUA tem 13% de negros enquanto o Brasil tem 52% de negros. Qual é a participação deles nos espaços sociais lá e cá? Segundo ele nos Estuados Unidos enfrentaram com mais êxito o problema. E continua mostrando:

“Praticamente, todos os índices de saúde da mulher negra são piores do que os da mulher branca”. “Em uma consulta sobre câncer de mama, as negras são menos apalpadas do que as brancas”. 

O racismo mata: Ele mostrou uma constatação que entre a emergência de uma parturiente negra e uma branca, o médico brasileiro escolhe a branca porque "as negras são mais resistentes à dor e estão acostumadas a parir“. Fonte: Envolverde/IPS.

E continuou mostrando que “os negros representam 48,2% dos trabalhadores nas regiões metropolitanas, mas, mesmo assim, a média de seu salário chega a ser 36,1% menor do que a de não negros”.

Dos negros trabalhadores, 27,3% não haviam concluído o ensino fundamental (que vai do 1º ao 9° ano) e apenas 11,8% conquistaram o diploma de ensino superior, ao passo que entre os nãos negros em atividade 17,8% não terminaram o ensino fundamental e 23,4% formaram-se em uma faculdade.

Ainda de acordo com o Dieese, um trabalhador negro com nível superior completo recebe na indústria da transformação, em média, R$ 17,39 por hora, enquanto um não negro chega a receber R$ 29,03 por hora. Isso pode ser explicado porque “o avanço escolar beneficia a todos promovendo o aumento dos ganhos do trabalho, mas de maneira mais expressiva para os nãos negros”.

O professor também mostrou que os negros vêm conquistando através das lutas mais espaços na sociedade, principalmente depois das “Jornadas de Junho”. E citou uma Proposta de Emenda Constitucional que estabelece reserva de vagas para parlamentares de origem negra na Casa e nas assembleias legislativas que reservaria cotas raciais por cinco legislaturas seguintes (o equivalente a 20 anos), de autoria do deputado Luiz Alberto (PT-BA); e a proposta do deputado Paulo Paim (PT), que reserva 5% do fundo partidário para ampliar a participação do negro na política. Mostrou ainda que:  
Foi aprovado o Estatuto da Juventude e 75% dos royalties do petróleo para Educação e 25% desses recursos para a Saúde.

De acordo com o IBGE, o percentual de negros no ensino superior passou de 10,2% em 2001 para 35,8% em 2011.

Política afirmativa de cotas raciais (20% no ProUni - Educação e agora no Serviço Público Federal)
A Lei Federal N° 10.639/2003 que garante a obrigatoriedade da História e Cultura Afro-brasileira no currículo oficial da Rede de Ensino.

Leiamos agora o que diz o militante Edson França citado por Dedé Rodrigues:

 “não se trata somente de uma herança dos tempos de escravidão”. O racismo ainda opera nas sociedades contemporâneas e permanece aprofundando as desigualdades a partir de mecanismos institucionais, burocráticos e culturais, criando barreiras para a população negra. Mantém a população negra à margem. “Sem ações afirmativas, sem colocar o dedo na ferida, não tem revolução, não tem desenvolvimento no país”.

O Professor Dedé Rodrigues apresentou também outra situação interessante:

 “Quando falamos sobre Diversidade, Relações Raciais e Étnicas e de Gênero, em 2008 a renda média das mulheres negras era de R$383; seguida da renda dos homens negros, R$583; das mulheres brancas, R$742; e dos homens brancos, R$1.181”. Observem as disparidades, diz ele.

Concluindo a sua intervenção o professore Dedé Rodrigues disse que “os movimentos sociais no Brasil e no mundo precisam continuar lutando pelas suas pautas específicas (reivindicações próprias), mas só conseguirão avançar mais nas suas pautas quando se juntarem aos demais que lutam nas outras Jornadas de junho”.

A desigualdade no Brasil, apesar da particularidade com os negros, é também em relação aos índios, às mulheres, aos brancos pobres etc. Qual será o futuro das cotas raciais? As cotas como tudo na vida, devem acabar um dia, mas isso só ocorrerá quando as pesquisas sociais disserem que não são necessárias mais elas.  Segundo ele “é preciso também criar cotas para os pobres, pois o problema da desigualdade, mesmo que avancemos em determinadas conjunturas como essa atual no Brasil, é um problema gerado pelo sistema capitalista”.  Segundo Dedé “dizer que é o próprio negro que se auto discrimina para justificar a discriminação dele é a mesma coisa que dizer que a culpa do pobre pela pobreza é também dele". Se o esforço individual é muito importante nesse sistema para as pessoas conseguirem as coisas que desejam, o modelo de sociedade capitalista, individualista, discriminatório e concentrador de renda são determinantes. Por isso o professor considera que é preciso ampliar “as próximas jornadas de lutas” para as mudanças continuarem acontecendo no Brasil. Mas finaliza dizendo: Uma multidão despolitizada nas ruas, sem uma direção consciente, pode levar o Brasil para uma situação ainda pior. Têm muitos urubus neofascistas á espreita, diz ele. E, por fim, concluiu dizendo: “Lembrem-se: A profundidade das mudanças depende das reformas estruturais, de direções conscientes ligadas à esquerda nas mobilizações sociais,  do grau de consciência política das massas e da correlação de forças”. Obrigado!

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