segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sorrentino: PCdoB, a linha política e a construção partidária

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na Plenária do 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) - realizada entre os dias 14 a 16 de novembro, no Anhembi, em São Paulo - o membro da Comissão Política do Partido, Walter Sorrentino, destacou em sua intervenção que o PCdoB precisa conjugar os três verbos da acumulação de forças e reger uma sintonia entre a linha política e a linha de construção partidária. Leia a íntegra da intervenção:


O país tem uma encruzilhada política, entre avanço e retrocesso quanto ao projeto de nação. Isso se dá independentemente das artimanhas para conter a polarização num esquema bipartidário. 

Programaticamente, não há lugar para uma terceira via, muito menos imaginar continuidade entre o período maldito do neoliberalismo e as conquistas destes governos populares. Apesar de todas as limitações quanto à questão nacional por parte da força hegemônica, o rumo precisa prosseguir para se aprofundar. O que há são forças intermediárias cavando espaço político dada uma oposição tradicional em declínio. Objetivamente, elas se unem em torno do ponto nodal: derrotar Dilma.

Por isso, temos lado decidido nessa encruzilhada, e vamos lutar por ampla unidade popular para avançar nas reformas democráticas estruturais. Reformas para produzir uma nova arrancada econômica, política e social no país. 

A base geral para isso é acelerar o desenvolvimento e investimentos. Mas para isso é preciso três coisas: repactuar entre as forças populares e o governo, para mobilizar apoios a uma quarta vitória popular em 2014; reativar os protagonistas sociais que sustentem a nova arrancada; e fortalecer a esquerda e a unidade popular como centro programático do governo, incluído aí o fortalecimento do PCdoB. 

É preciso sinalizar a base dos trabalhadores com novas conquistas – as 40 horas e o fim do fator previdenciário. É preciso dar novo passo para aqueles que saíram da miséria ou ingressaram em novas camadas de consumo – a reforma tributária progressiva para novo marco de distribuição de renda. É preciso superar o mal estar com os segmentos médios, os tradicionais e os que ascenderam socialmente. Junho foi um sinal de virada sem retorno: eles querem mais, não ingressaram em sindicatos, organizações estudantis ou comunitárias, mas estão ativos! Há um mal-estar a ser revertido e a base para isso é a qualidade e universalização dos serviços públicos.
​ Deve estar suficientemente​ claro para todos nós que isso só se alcançará com um poderoso movimento político de massas.

Temos que partir da teimosa verdade: o Brasil segue inaceitavelmente injusto e desigual. A isso se acrescenta a natureza conservadora do Estado brasileiro que pouco se alterou nestes dez anos. Grande parcela do povo não se sente representada politicamente; quem sabe os tradicionais segmentos que nos apoiaram estejam um pouco acomodados! Apesar de mais democracia, há uma crise na representação política. Está em incubação, ao lado do avanço, também um ideário neoconservador no Brasil. Como disse o Veríssimo, o Marx tem uma frase: se uma nação inteira pudesse sentir vergonha, seria como um leão preparando seu bote. Uma nação envergonhada de seus políticos e das suas mazelas foi às ruas. Resta saber para que lado seria o bote desse leão.

A grande questão para seguir adiante, então, não é apenas econômica, mas tem por pressuposto a reforma política democrática. Essa é a pedra no caminho do futuro: uma reforma política instrumentalizada para a democracia e progresso, não pela onda conservadora em voga no mundo. 

Quanto ao nosso Partido, falou-se muito do seu caráter. A militância está vigilante apontando deficiências, o que é necessário. É preciso sim assegurar o caráter de um partido comunista, com base no Programa Socialista, que define substantivamente quem somos e pelo que lutamos. É preciso sim lutar pelo caráter leninista e contemporâneo do PCdoB em sua estruturação. É preciso sim fortalecer a têmpera ideológica na construção cotidiana do partido. Sempre haverá novos camaradas a quem é preciso repetir velhas lições, de saudável ortodoxia. 

Mas o PCdoB é um partido de bom caráter, e não tem omissões nesse terreno. Aliás, jamais em sua orientação política destes anos se expressou nenhuma inclinação à direita ou ao esquerdismo. 
Não temos ingenuidades quanto ao que fazer para evitar os riscos a que muitas forças de esquerda já foram arrastadas, do pragmatismo irrecuperável. Não é nem será esse o nosso rumo. Decididamente, não somos um partido centrado em mandatos parlamentares e no ato de governar, como afirma um dos maiores líderes do PT. Nossa garantia maior está nos quadros comprometidos com o Programa partidário, por uma nação desenvolvida, soberana, livre e justa, e com o labor cotidiano de sua construção. Isso é ser revolucionário nos dias atuais, inconformados e indignados com a democracia restrita, com as injustiças sociais, com a exploração e opressão capitalista-imperialista.

O que devia nos preocupar é perseguirmos o caráter do partido fora da política, ou se criássemos contradição entre isso e ser mais forte política e eleitoralmente! A força eleitoral do partido é restrita ainda, o partido não tem redutos eleitorais fortes. Não há atalho para isso: força eleitoral deriva de acertos políticos mas igualmente de maiores relações sociais e inserção na luta de ideias, a capacidade de penetrar mais fundo nas relações com a sociedade e também com os movimentos sociais, ligando os grandes temas nacionais ao anseio do cotidiano por uma vida melhor. E vice versa, a força eleitoral nos faculta falar mais amplamente a toda a nação. 

Mesmo que sob atraente vestimenta, há uma recusa à política quando se magnifica os riscos de degenerescência derivados de ser mais fortes eleitoralmente ou ter mais instâncias de governo. Estranho isso, na luta política! 

A questão é outra: todos, absolutamente todos, de todas as frentes de atuação, deviam se preocupar em dar mais força eleitoral ao PCdoB. Isso não é função apenas da mal chamada “frente institucional”, mas de todos. Por que os trabalhadores sindicalistas não deviam se ocupar disso? Ou as mulheres, o movimento comunitário, a juventude? Ou nossos cientistas e pesquisadores, nossos artistas e agentes culturais? Por que pôr uma barreira entre a luta institucional e a luta social ou de ideias? 

Afinal, o que devemos todos, atuemos onde quer que seja, é despertar o apetite político da maioria do povo brasileiro por avanços civilizacionais, para que ele, o povo, tome em suas mãos esse desafio, o protagonize e, consequentemente, obtenha maioria para as forças políticas que o represente. Mais lutadores sociais parlamentares ou prefeitos, e não apenas lutadores sociais!

O Brasil só se transformará se os comunistas, junto com outras forças de esquerda, se fortalecerem como forte e influente corrente de pensamento e ação política de massas, com redutos de inserção social, política bem fortes, e muito, muito mais força eleitoral. 

Então, as três formas de acumulação de forças são um todo só, interdependente, não se excluem.
O que o PCdoB precisa é conjugar os 3 verbos da acumulação de forças e reger uma sintonia entre a linha política e a linha de construção partidária.

A organização deve ser pôr a serviço dessas duas linhas. Um partido de militantes e quadros, organizado em bases atuantes, verdadeiramente militante, Comitês fortes e influentes, partido presente entre o povo não apenas nos anos pares eleitorais, mas todo dia e todas as horas.

Não vamos nos desviar desse grande desafio. Isso somos nós. Essa a linha que merece a confiança e o empenho de todos nós. É para isso que queremos perseverar no caráter comunista do partido, como se diz.

*Walter Sorrentino é membro da Comissão Política do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

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