Jô Moraes com a presidenta Dilma. Março/2013. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG), coordenadora da Bancada Feminina na Câmara dos Deputados, denunciou nesta quinta-feira (11), da tribuna da Câmara, a ameaça de morte sofrida através de mensagem na rede social twitter. Além de prestar solidariedade à parlamentar, em nome de toda a Casa, o presidente da sessão, Renato Simões, anunciou o respaldo do Poder Legislativo em defesa das prerrogativas e do mandato de Jô Moraes.
A ameaça foi realizada através de uma mensagem por uma pessoa que se identifica como Bob Juliano Fox e se apresenta como mascote de um clube de futebol. “Jô Moraes, só um aviso: tome mais cuidado para não tomar uma bala na cabeça: vc está na lista”, diz o texto da ameaça.
Ameaça de morte sofrida através do twitter por uma pessoa que se identifica como Bob Juliano Fox
A comunicação da ameaça contra a sua vida foi feita pela deputada Jô Moraes durante pronunciamento em que saudou os resultados das investigações da Comissão Nacional da Verdade, entregues e anunciados ao país no dia anterior pela presidenta Dilma Rousseff.
Jô Moraes lembrou os anos de clandestinidade em que teve de viver fugindo, usando vários nomes para não ser novamente presa, já que havia sido identificada como líder estudantil nos tempos em que lutava contra o regime de exceção. Em um recado àqueles que resistem e defendem a volta do regime de força, a parlamentar deu um recado: “É preciso que esta Casa e que a sociedade compreendam a importância de nós aprendermos, analisarmos e decidirmos que aqueles tempos nunca mais voltarão”.
Ela também fez um paralelo com a ameaça sofrida e os momentos vividos onde setores resistem aos avanços. “Essa ameaça de morte é um caldo de cultura que está se criando numa direita raivosa que, por não compreender o que significa o pensamento da maioria, quer exatamente quebrar a institucionalidade deste País. Eles não suportam que a maioria do povo faça uma escolha, não conseguem entender que a democracia não é o reino da selvageria, mas é a convivência que as instituições nos impõem”.
Eis a íntegra do pronunciamento da deputada federal Jô Moraes:
“Senhor Presidente, caros Deputados, queridas Deputadas, aqueles que, como nós, vivenciaram os duros tempos em que a liberdade era algo inatingível, temos que saudar, com expressão muito especial, os resultados da Comissão da Verdade entregues ontem à Nação brasileira. Dizemos isso porque a história tem que aprender com as suas chagas, com os seus erros, com os seus equívocos.
Sou uma daquelas pessoas que foram atingidas. Estive presa duas vezes. Estive por 10 anos usando nomes falsos para poder sobreviver neste País. Tive a notícia da morte de minha mãe através de um sonho, que imaginava para mim a busca, porque a polícia estava acompanhando minha família no hospital para saber se eu iria visitar minha mãe. Mesmo no leito de morte, minha mãe foi cerceada do carinho de sua filha caçula, porque, se ali eu chegasse, com certeza seria presa.
Às vezes, as pessoas nem sabem o que representou viver durante tanto tempo, sair no apogeu da sua juventude, na insegurança dos seus anos de adolescência, sem ter como trabalhar, sem ter onde buscar apoio a não ser naquelas pessoas que, sem nos conhecer, acolhiam-nos em suas casas, certas igrejas que nos acolheram nos seus conventos, certos profissionais que corriam risco. E quero registrar aqui que tive uma amiga, a Marizete, presa exatamente pelo crime de me acolher em sua casa, quando, durante 10 anos, eu vivi com outra identidade.
Por isso, é preciso que esta Casa e que a sociedade compreendam a importância de nós aprendermos, analisarmos e decidirmos que aqueles tempos nunca mais voltarão. Eu falo isto, deputada Dalva, porque não é fácil você conviver com ameaças, não é fácil você conviver em um tempo como este que, pelo fato de eu ter votado na flexibilização da Lei de Diretrizes Orçamentárias para assegurar que as obras de infraestrutura neste País fossem asseguradas, porque o Governo, com a crise internacional, não pôde arrecadar, por ter votado pelo bem do meu País, eu recebo a seguinte ameaça: Jô Moraes, só um aviso: tome mais cuidado para não tomar uma bala na cabeça.
Você está na lista. Isto no Twitter, sob o nome de Bob Juliano Fox, com a identidade, lamentavelmente, da figura de um clube que eu respeito e que não é o meu.
Essa ameaça de morte é um caldo de cultura que está se criando numa direita raivosa que, por não compreender o que significa o pensamento da maioria, quer exatamente quebrar a institucionalidade deste País. Eles não suportam que a maioria do povo faça uma escolha, não conseguem entender que a democracia não é o reino da selvageria, mas é a convivência que as instituições nos impõem.
Presidente desta sessão, Deputado Renato, V.Excelência não sabe o que é escutar — como eu escutei — de uma senhora de 83 anos que ela, permanentemente, todo mês, tirava um pouquinho de dinheiro da sua mísera aposentadoria e o guardava para fazer o túmulo do seu filho, Idalício Soares Aranha, morto na Guerrilha do Araguaia. O sonho dela era que ela pudesse enterrar o seu próprio filho, fosse em que tempo fosse, mas que ela não morresse sem ter a possibilidade de ter os ossos do seu filho. Por isso ela tirava míseras migalhas da sua aposentadoria para uma poupança de um túmulo que não viria.
Por isto, Senhor Presidente, eu quero dizer que a sociedade brasileira tem que ter consciência, a sociedade brasileira tem que compreender que para as mais de 400 pessoas que se separaram das suas famílias, dadas por desaparecidas ou por mortas — entre elas o meu primeiro companheiro, o meu noivo, que faleceu exatamente nas circunstâncias estranhas de um afogamento numa cidade nos arredores de Campina Grande —, esse tempo não pode voltar. Nós não podemos nos separar das nossas famílias pelo crime de querer apenas divergir.
Quero concluir, Senhor Presidente, dizendo que esta sociedade tem que ter o compromisso absoluto com as instituições que garantam a democracia e a liberdade neste País. É preciso respeitar todas as estruturas democráticas deste país.
Impeachment de presidente eleito é golpe, é o caminho da destruição das principais instituições. Nós não podemos admitir que nesta Casa tenhamos a tolerância de escutar um Parlamentar aqui dizer que não estupra, porque ela não é do seu critério.
Nós não podemos compreender e aceitar que o crime seja disseminado, sem que a sociedade se rebele. A liberdade é o maior bem que nós temos neste País. A democracia é o caminho para o desenvolvimento e para a convivência humana. Isso é tudo o que nós precisamos para ter um mundo melhor.
Defesa das prerrogativas e do mandato
Eis a íntegra do pronunciamento do presidente da sessão, deputado Renato Simões, ao tomar conhecimento das ameaças sofridas por Jô Moraes pelas redes sociais:
“Nobre Deputada JôMoraes, esta Presidência, dada a gravidade das ameaças feitas por redes sociais contra Vossa Excelência sente-se na obrigação de comunicar ao Presidente efetivo da Casa, para que Vossa Excelência tenha todo o respaldo do Poder Legislativo na defesa das suas prerrogativas e do seu mandato. Nós temos plena concordância com o teor geral do seu pronunciamento, com a importância dos novos tempos que o Brasil vive e do relatório tão esperado da Comissão Nacional da Verdade para que ameaças como essas nunca mais prevaleçam contra a esquerda e os militantes políticos que defendem suas causas. Desse modo, receba Vossa Excelência minha solidariedade, e, no exercício da presidência desta sessão, de toda a Câmara dos Deputados pelo desempenho de seu mandato parlamentar.”
Com informações da Assessoria da Deputada
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