terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Lelê Teles: A ração do midiota


O midiota, você sabe, é aquele cabra que não consegue pensar fora da caixa. Me refiro àquela caixa de 50 e tantas polegadas que fica de frente ao sofazão retrátil.

Por Lelê Teles*, no Portal Fórum 


Divulgação.
 
 

Willian Bonner, chegado a referências gringas, classificou – para o estarrecimento dos pesquisadores em comunicação que o ouvia – o telespectador do Jornal Nacional como um Homer Simpson; aquele gordinho preguiçoso e obtuso que vive o simulacro da TV como se realidade fosse. Vai vendo.

Em 2013, pesquisa feita pelo DataFolha mostrou que 48% dos eleitores se declaravam conservadores sobre temas como drogas, aborto e políticas sociais; ou seja, uma gente predisposta a sair às ruas vestida de verde e amarelo, cantando o hino, rezando uma Ave Maria (que ave seria essa?) e pedindo uma intervenção militar.

Na época, Reinaldo Azevedo se animou e, ao comentar a pesquisa, disse que eleitores de direita e centro-direita eram a maioria no Brasil, mas não tinham em quem votar. E reclamava, ainda, a falta de um partido que tivesse coragem de se declarar destro para pegar esse eleitorado.
Aécio Neves, obcecado pelo poder, se apresentou, faca nos dentes, olhos esbugalhados e uma super dose de vacina para cavalos na veia.

Seu partido foi a reboque.

Mais animados ainda, Folha, Veja, Globo e seus inúmeros veículos, inundaram o país com articulistas, colunistas e comentaristas conservadores. Poetas, geógrafos, filósofos, psiquiatras e até jornalistas se revezavam no papel, na TV, na internet e no rádio, alimentando o Homer Simpson, fortalecendo o seu discurso.

Afinal, Homer estava lá, sentadão, pronto a ratificar posições anti gay, anti PT, anti cotas, antiquadas e a favor de um golpe.

Assim, os barões da mídia iam formando o seu exército de midiotas.

Na CBN, botavam a voz de Odorico Paraguaçu toda vez que íamos ouvir a voz do Governo Federal – “Povo de Sucupira!” – era assim que eles desdenhavam dos eleitores de esquerda e centro-esquerda.

Jabor, na sua ridícula tentativa de imitar Nelson Rodrigues, fazia farra na TV com seus comentários rasos, jocosos e cheios de ódio.

Aquela era a ração do midiota.

Em 2014, o manchetômetro, criado por pesquisadores em comunicação, revelou o massacre de manchetes contra o governo.

Muitas vezes o contexto destoava do que vinha no texto da manchete; mas o midiota tem dificuldade de interpretação; pra ele o que vale é o que vem em caixa alta.

Dessa forma, por meio de chamadas, capas e manchetes tendenciosas, TVzonas, jornalões e revistonas ditavam o assunto do dia, ou agendavam, como preferia Maccombs.

Nas redes sociais, o midiota, acrítico, reproduzia tudo o que lia e ouvia.

Mas é preciso que se diga, todo esse discurso de ódio, medo, caos, xenofobia e racismo, despreza a ideia de nação, de coletividade fraterna, de solidariedade, de pacto social.

O discurso que alimenta o midiota se presta, tão somente, a defender a existência de dois Brasis, onde um serve apenas para servir ao outro.

Heráclito definia como idiota todo aquele que vive somente para si e se desloca das questões importantes para a coletividade.

Etimologicamente, o idiota (idio), é o sujeito ensimesmado que está mais preocupado com seu próprio umbigo.

Na Idade Média, também conhecida como Idade de Trevas, ele se converte no midiota, esse oligofrênico animal de rebanho que vocaliza, ventriloquamente, o discurso dos barões donos dos conglomerados de comunicação.

Em outubro, foram todos derrotados.

Dilma acaba de ser diplomada, Aécio e seu partido tentaram, até o último segundo, impedir a diplomação.

Os barões da mídia não se conformam.

Nas ruas e nas redes, os midiotas espumam pela boca. Sentem como se a derrota de Aécio e dos bilionários conspiradores – que têm muito a perder com a vitória de Dilma – fosse uma derrota deles também, que não perdem nada com isso.

Joseph Politzer já havia alertado, “com o tempo, uma imprensa mercenária, demagógica e corrupta, formará um público tão vil como ela mesma”.

Ela falava, vaticinosamente, sobre a midiotia.

Palavra da salvação.

*Lelê Teles é Radialista e e Roteirista do Programa Estação Periferia da TV Brasil.

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