Autor: Eduardo Guimarães
Já que os fatos finalmente estão mostrando que jamais foi “alarmismo” denunciar (com muita antecedência) que a análise das contas de campanha de Dilma pela Justiça Eleitoral iriam produzir os devaneios golpistas que estão produzindo, pulemos a parte do “eu avisei” para a parte sobre “o que fazer”, que, no frigir dos ovos, é o que interessa a todos.
Na semana passada, surgiu o primeiro sinal concreto de que as contas de campanha de Dilma seriam alvo do que estão sendo. Denúncia de um dos empreiteiros envolvidos na operação Lava Jato afirmou que o PT recebeu doações legais nas campanhas eleitorais de 2008, 2010 e 2012 que, na verdade, provieram de dinheiro de corrupção.
Aquele foi um balão de ensaio do que estava por vir. Exposta a teoria de que dinheiro do caixa 1 da campanha de Dilma teria ligação com corrupção justamente no momento em que o relator dessas contas eleitorais – Gilmar Mendes, inimigo notório do PT – mobilizou TCU, Receita etc. para que passassem um pente-fino nelas, agora a mídia trataria de denunciar uma irregularidade nessas contas.
Na sexta-feira 5, a Folha de São Paulo publica a primeira matéria apontando irregularidade nas contas da campanha petista, antes de qualquer anúncio oficial. O vazamento da informação precederia outro, que seria feito na última segunda-feira, dizendo que “técnicos” anônimos do TSE teriam encontrado irregularidades em cerca de 4% das receitas de campanha de Dilma e em cerca de 14% das despesas.
O roteiro da TENTATIVA de golpe, a partir desse ponto, já está sendo amplamente veiculado. Suponhamos, então, que dê certo.
Gilmar Mendes terá que decidir se acolhe o pelo em ovo encontrado pelos técnicos aos quais delegou a tarefa de encontrá-lo. Será uma surpresa e um ineditismo se, pela primeira vez, o ministro tucano no TSE e no STF decidir alguma coisa a favor do PT. Desse modo, suponhamos que ele acolha a recomendação dos “técnicos” e rejeite as contas de campanha de Dilma.
Suponhamos, agora, que, no TSE, os ministros João Otávio Noronha, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Dias Tóffoli cumpram o script e, por maioria de quatro a três, rejeitem as contas de campanha de Dilma.
Nesse momento – ou, talvez, até antes –, que ninguém tenha dúvida de que movimentos sociais, sindicatos e muitos militantes autônomos ou filiados ao PT sairiam às ruas exigindo respeito à vontade das urnas, ao que seriam confrontados pelos militantes tucanos, inclusive pelos que querem a volta da ditadura militar.
Como se sabe, Lula já está se preparando para enfrentar um golpe no TSE que ainda há quem diga que é delírio.
Nesse processo, não é difícil imaginar que protestos pró e contra a perda de mandato de Dilma acabariam se encontrando e produzindo uma guerra campal de magnitude imprevisível, podendo gerar até mortos e feridos.
A essa altura, o país já estaria parado. As empresas estariam não apenas postergando investimentos, mas, também, apelando à boa e velha prática de “demissões preventivas”. A incerteza sobre quem iria governar o país derrubaria as ações das empresas, faria a inflação explodir, desencadearia demissões em massa etc.
Nesse momento, o PT estaria recorrendo ao STF contra a decisão do TSE, assim como fez durante a campanha eleitoral a revista Veja, que conseguiu cassar no Supremo o direito de resposta que a Corte eleitoral concedera ao partido.
Suponhamos, então, que, no STF, Gilmar Mendes, Dias Tóffoli, Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Luiz Fux, Carmem Lúcia e Rosa Weber derrotassem Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso – a inspiração para compor esse quadro se baseia no julgamento do mensalão.
Com a hipotética derrota também no STF, Dilma perderia o mandato e novas eleições seriam convocadas.
O país, nesse momento, estaria conflagrado e afundando economicamente. A radicalização de parte a parte racharia a sociedade, o eleitorado. Com Dilma impedida, Lula se candidataria, a menos que prevalecesse a sugestão do Reinaldo Azevedo e o PT fosse colocado na ilegalidade, em pleno século XXI.
Como aí já é demais, pois seria a volta da ditadura militar, suponhamos que Lula não seria preso e o PT não seria posto na ilegalidade.
Assim, com o país conflagrado, a economia afundando, Aécio Neves e Lula disputariam uma nova eleição. O mais provável é que Lula venceria, mas mesmo se perdesse e Aécio fosse eleito, ele receberia um país conflagrado e uma oposição tão feroz quanto a que está comandando.
Será que vale a pena herdar um governo assim? Será que vale a pena atirar o país em tal buraco achando que não será cobrado pelo que os brasileiros vierem a passar?
Só o que já se pode garantir é que, até lá – e até o país se recuperar disso tudo –, você, cidadão comum que odeia o PT, se não for ligado a políticos provavelmente estaria desempregado e com a vida virada de cabeça para baixo. E é possível garantir que a mídia e o PSDB não resolveriam os seus problemas pessoais só por você odiar o PT.
A pergunta que fica, pois, é a seguinte: vale a pena correr tal risco só por marra da oposição e da mídia, só porque não querem aceitar uma derrota nas urnas e esperar a próxima eleição? Você tem certeza de que é isso o que quer? Vale a pena afundar um país só por birra? Você, que apoia essa aventura, tem certeza de que sabe o que está fazendo?
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