sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O ano que teima em não terminar

Luciano Siqueira *

O hábito é antigo - compartilhado com milhões de brasileiros. Antes, rasgar papel, desvencilhar-se de tudo o que já não tem importância; com o computador e a internet, deletar.


Aqui e acolá algo é preservado, mesmo na dúvida: terá mesmo importância?


Afinal, trata-se de virar o ano e recomeçar - como diz o poeta Drummond, "aí entra o milagre da renovação/e tudo começa outra vez, com outro número/e outra vontade de acreditar/que daqui para diante tudo vai ser diferente."

Gozando pouco mais de uma semana de repouso na praia, com a família, tiro um tempinho para a faxina cibernética. E me deparo com um ano que teima em não terminar: são tantas as coisas infindas em 2015, que inevitavelmente ingressarão em 2016 com lugar cativo. 

Os impasses na economia, por exemplo: muita coisa anotada, pensada de moto próprio e principalmente de leituras variadas, permanecerão arquivadas. Servirão ao acompanhamento da crise.

O imbróglio político, cuja solução parece se arrastará alguns meses adiante - vide o processo de impeachment e a marcha de Eduardo Cunha para o cadafalso -, impõe a guarda de notas que mesclam os acontecimento presentes com registros de nossa atribulada História republicana.

A crise de agora tem muito do DNA de crises passadas. O conflito de classes assume coloridos modernos, porém na essência é o mesmo.

Como dizia Ariano Suassuna, é o velho embate entre a turma de Tiradentes contra a turma de Joaquim Silvério dos Reis. Projetos de nação díspares postos em causa, sob o manto da peleja entre a oposição retrógrada e antinacional versus o governo constitucional da presidenta Dilma.

Uma vez mais, em defesa da democracia, juntam-se em frente ampla e plural muito mais de que os que apoiam o governo. Democratas que o criticam e até a ele se opõem topam a parada anti-golpe.

Sim a História aqui se repete e se reinventa. Afinal, ainda pelos versos de Drummond, "O último dia do ano/não é o último dia do tempo./Outros dias virão..."

Que sejam dias melhores, com a retomada do crescimento e a fortificação das conquistas sociais.

Resta-me, assim, desejar a vocês que me honram com a sua paciência um Ano Novo rico em realizações e paz.
* Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB

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