domingo, 31 de janeiro de 2016

Entenda como funcionam as primárias nos Estados Unidos


Antes da eleição presidencial, os partidos Democrata e Republicano têm que escolher seus candidatos, numa disputa que vai até junho.


  
Os partidos Democrata e Republicano escolhem, até o próximo mês de junho, seus candidatos à presidência para a eleição de novembro deste ano nos Estados Unidos.

Cada um dos 50 estados decide qual sistema de votação será usado. O mais comum é a eleição primária. Os votantes vão às urnas e escolhem seu candidato como em qualquer outro pleito. Alguns estados têm primárias abertas, enquanto outros têm primárias fechadas.

Em uma primária aberta, qualquer eleitor, independentemente da filiação partidária, pode votar em candidatos democratas ou republicanos. Já numa primária fechada, apenas democratas podem votar em pré-candidatos democratas e apenas republicanos podem eleger republicanos.

Há ainda outro sistema, chamado caucus (ou "convenção partidária"). Um dos mais famosos é o realizado no estado de Iowa. Nele, os membros do partido se reúnem e discutem as razões para apoiar diferentes candidatos antes de a votação começar.

"O que torna impossível para americanos entenderem – isso para não falar de alguém de outro país – é que cada estado tem diferenças na forma de indicação do candidato", afirma Robert Schmuhl, especialista em sistema eleitoral dos EUA da Universidade de Notre Dame.

O atual sistema de indicação foi adotado na década de 1970, primeiramente pelos democratas e, em seguida, pelos republicanos, em um esforço para tornar o processo mais aberto e democrático. Antes, as elites do partido tinham o maior peso na escolha dos candidatos. Agora, os eleitores têm um papel muito maior.

Por meio dessa reforma, Iowa se tornou o primeiro estado no calendário eleitoral a realizar suas primárias. O sistema caucus é complexo e pode se arrastar, por isso a decisão de realizá-lo o mais cedo possível. O estado de New Hampshire, no nordeste do país, realiza sua primária logo depois.

Desde a década de 1970, os candidatos democratas e republicanos à presidência têm construído suas estratégias de campanha em torno de Iowa, New Hampshire e outros estados que votam mais cedo. Uma posição sólida nessas regiões pode dar um impulso na longa e muitas vezes cansativa corrida para a indicação à presidência.

Em 1976, o então relativamente desconhecido governador da Georgia, Jimmy Carter, surpreendeu a imprensa e causou sensação ao vencer as prévias de Iowa. Depois, ele se tornou o candidato democrata e venceu a eleição presidencial.

Em 2008, poucos esperavam que o senador pelo estado de Illinois, Barack Obama, fosse vencer a senadora por Nova York, Hillary Clinton, e se tornasse o candidato democrata. A campanha de Obama se centrou no caucus, enquanto a de Hillary focou nos estados que realizam primárias. Como consequência, o atual presidente conquistou Iowa, e sua campanha ganhou dinamismo. 

"Desde 1972, quem chega em primeiro, segundo ou terceiro em Iowa, sempre obtém a indicação de sua legenda em ambos os partidos", afirma Steffen Schmidt, especialista em sistema de convenção partidária da Universidade Estadual de Iowa.

No verão (hemisfério norte), os republicanos e democratas realizam suas convenções partidárias nacionais, onde todos os delegados dos 50 estados se reúnem para escolher o candidato presidencial do partido.

"Os democratas têm quase o dobro de delegados em sua convenção em comparação com os republicanos", explica Schmidt. "Isso se deve ao fato de os democratas terem realizado reformas partidárias que deram aos estados mais delegados a fim de que mulheres, minorias e jovens pudessem ser representados."

Alguns estados têm um sistema chamado "winner-take-all", em que todos os votos vão para o vencedor. Em outras palavras, o candidato que vence a maioria das primárias ou caucus recebe o apoio de todos os delegados de um determinado estado na convenção nacional. Outros estados mudaram para um sistema proporcional, em que candidatos recebem delegados levando em conta a porcentagem do voto popular recebido.

Na maioria das vezes, os delegados escolhem o candidato na primeira votação na convenção. Mas isso pode ficar confuso neste ano. Caso nenhum candidato surja como vencedor no primeiro escrutínio, uma negociação terá que ocorrer entre os delegados para decidir qual pré-candidato será indicado. Na maioria dos estados, apenas 20% dos americanos votam nas primárias presidenciais e convenções partidárias.

"É totalmente não transparente, e não é de admirar que os americanos estejam frustrados com a política, porque o processo é muito complicado", afirma Schmidt. "Alguém precisa entrar lá e dizer que isso não funciona. As pessoas estão afastadas da política porque isso não tem sentido." 

 Fonte: Carta Capital

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