sexta-feira, 29 de março de 2013


Os 10 anos da barbárie no Iraque

Fernando Botero/Abu Ghraib
Por Altamiro Borges

A invasão e a barbárie no Iraque completaram 10 anos na semana passada. Os Estados Unidos evitaram festejar a fatídica data. Neste longo período, segundo dados oficiais, mais de 120 mil iraquianos foram assassinados e os EUA gastaram nas operações militares mais do que o PIB brasileiro (cerca de US$ 2,2 trilhões). Outras fontes afirmam que a “guerra” causou mais de meio milhão de mortos e que os tais “prejuízos” foram bem superiores. De qualquer forma, o saldo é extremamente negativo. Um desastre completo!

Segundo recente pesquisa do instituto Gallup, nem os estadunidenses concordam com a ação genocida dos EUA - 53% avaliam que ir à guerra foi um grave erro. Já no Iraque, a situação é de caos e de total falta de perspectiva. Os EUA prometeram paz e democracia, e o resultado foi exatamente o inverso. O país hoje afunda na violência. No mesmo mês em que se “comemorava” a queda de Saddam Hussein, uma onda de atentados vitimou Bagdá com mais de 130 civis assassinados; outros 134 foram feridos.

Uma reportagem do jornal britânico “The Guardian” também trouxe novos elementos que comprovam que os EUA praticaram torturas nos centros de detenção do país. O coronel James Steele, um veterano das intervenções ianques na América Central nos anos de 1980, teria supervisionado diretamente os comandos policiais que instalaram masmorras secretas. Segundo o jornal, as unidades militares dos EUA conduziram alguns dos piores atos de tortura durante a ocupação e aceleraram a entrada do país na atual guerra civil.

Segundo o jornalista estadunidense Seymour Hersh, que revelou torturas em Abu Ghraib, o conflito no Iraque desmoralizou totalmente os EUA. As torturas e humilhações contra os prisioneiros revelaram toda a crueldade do império. Numa série de reportagens publicadas entre abril e maio de 2004 na revista "New Yorker", ele detalhou, inclusive com fotos, as práticas do então presidente George W. Bush. Dez anos após as primeiras bombas caírem sobre Bagdá, Hersh afirma que a invasão do Iraque “não foi apenas errada, mas foi imoral”.

Eleitor de Barack Obama, o jornalista se mostra bem pessimista sobre a política externa dos EUA. “Obama é melhor e mais inteligente do que Bush, mas tudo continua muito difícil”. Ele lembra que muitos iraquianos ainda permanecem presos, em condições desumanas, em Abu Ghraib e em Guantánamo, em Cuba. “A prisão continua em funcionamento. Alguns presos estão em Guantánamo há 11, 12 anos, isso tem um custo. Os americanos estão preocupados? Talvez uma parte muito pequena, mas a grande maioria não se importa”.

Como argumenta o professor de relações internacionais Reginaldo Mattar Nasser, em artigo no sítio Carta Maior, o saldo da invasão do Iraque é um desastre. “O ataque completou dez anos com a constatação por grande parte dos analistas de que a estratégia do governo Bush foi um fracasso: os Estados Unidos e seus aliados não conseguiram alcançar os objetivos anunciados e as consequências da operação militar foram desastrosas, seja do ponto de vista moral, econômico ou militar”.

Mas, para ele, o que o discurso sobre a derrota dos EUA não revela é que a guerra foi e continua sendo uma grande vitória para alguns. “O ataque ao Iraque impactou consideravelmente o comércio mundial de petróleo, pois além de interromper a produção iraquiana, a instabilidade política no Oriente Médio fez com que o preço do produto disparasse. Em 2003, quando os EUA chegaram à região, o preço do barril estava ao redor de US$25. Cinco anos depois, em 2008, ele chegou a US$ 140”. A indústria do setor obteve altos lucros.

Outro setor que auferiu altos lucros foi o da indústria de armamentos. “A percepção de insegurança no mundo proporcionada pela chamada Guerra contra o Terror conduzida pelos EUA, após 2001, propiciou aumento considerável na venda de armas aos países em todo o mundo. As 100 maiores empresas produtoras do mundo venderam US$ 410 bilhões em armas e serviços militares em 2011. Um estudo do Sipri mostra que a despesa militar no mundo, em 2011, foi de 1,6 trilhão de dólares, um aumento de 40% em 10 anos”.

Reginaldo Mattar Nasser também cita a indústria de “reconstrução”, que cuidou da infraestrutura do Iraque devastado, dos serviços de segurança e do treinamento das forças policiais. “A maior parte dos recursos foi alocada na contratação das empresas privadas de segurança. Em 2008, os dez principais fornecedores de serviços militares receberam cerca de US$ 150 bilhões em contratos”. Em síntese: a guerra no Iraque resultou em milhares de mortos e na destruição do país. Mas garantiu lucros recordes aos capitalistas.

“Ou seja, a suposta irracionalidade das ações contraproducentes no terreno militar, durante esses 10 anos no Iraque, é mais aparente do que real e não se trata, como querem ver alguns críticos da ação dos EUA, de uma guerra interminável no sentido de carecer de objetivos claramente definidos ou mal executados. A elite no poder sabe bem o que se espera desse estado de guerra permanente: a expansão dos negócios, domínio de territórios e influencia política”, conclui o professor Reginaldo Mattar Nasser.

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